quinta-feira, 3 de março de 2016

1860 - NOSSA CIDADE ESTAVA DECADENTE

Von Tschudi

Johann Jakob von Tschudi (1818-1889) foi um naturalista e explorador suíço que dedicou parte considerável de sua vida a viagens pela América do Sul. Viajou pelo Brasil, entre 1857 e 1860, tendo sido a seguir nomeado embaixador de seu país, aqui permanecendo até 1868. 

Descreveu suas viagens (e a passagem por nossa cidade) no livro "Reisen durch Südamerika”, publicado em 1868 pela editora F.A. Brockhaus. Publicou também um livro sobre a colonização do Espírito Santo. 


Saiu de São Paulo a 1° de agosto de 1860, chegando à nossa cidade às duas da tarde do dia seguinte. Escreveu que Jundiaí "fora uma vila importante e rica, quando nas fazendas dos arredores se plantava muita cana-de-açúcar. Seus habitantes entretinham um animado comércio de mulas, que compravam ainda selvagens em Sorocaba e as domavam para depois revendê-las, como bestas de carga ou animais de sela. Este comércio proporcionava-lhes bons lucros e além disto fabricavam ótimas selas e arreios". 

Mas isso era o passado; Tschudi escreveu que em 1860 "as terras se achavam depauperadas, o comércio de muares diminuiu sensivelmente, a indústria de selaria se extinguiu e a localidade perdeu todo o brilho dos tempos passados" e que “metade das casas da vila não eram habitadas, seus donos as visitavam apenas aos domingos, quando vinham de seus sítios à vila, para assistir à missa; o único prédio um pouco melhor era o do Mosteiro de São Bento”.

Capa do livro de Von Tschudi
Chegou a Jundiaí sentindo muito frio (encontrara muita geada pelo caminho) e constatou que “não havia nenhum albergue aceitável” no então centro da cidade. Seguiu até a região da ponte que cruzava o Rio Jundiaí (provavelmente na área da atual Ponte de Campinas), onde disse haver “logo após a ponte, uma grande e frequentada hospedaria, num edifício em forma de quartel onde o viajante encontra boas acomodações, camas limpas e comida regular. Seu dono, um português de nome Pinto, é geralmente conhecido pela alcunha de Barão da Ponte, devido à sua bonomia e gentileza”. 

Outra viajante, D. Maria Paes de Barros, confirmava a opinião de Tschudi sobre o hospedeiro, mas dizia que a comida nem sempre era boa e que a hospedaria era "primitiva", consistindo apenas de uma fila de pequenos aposentos...


O Barão de Jundiahy 



Naquela época, já se falava na construção da estrada de ferro que ligaria Santos a Jundiaí, e que foi inaugurada em 1867 – Tschudi dizia que “o negociante era um grande inimigo da estrada de ferro projetada, pois viria ameaçar seriamente seu rendoso negócio”. Pinto perguntou ao viajante se na Europa alguma estrada de ferro já fora construída chegando a uma altitude tão grande quanto a da Serra do Cubatão (Serra do Mar). A resposta afirmativa do interrogado deixou Pinto ainda mais preocupado. 

O fim das tropas de animais de carga, que paravam na hospedaria para descanso dos animais e de seus condutores certamente afetaria muito o negócio – Tschudi dizia que Jundiaí somente tornaria a ter alguma importância, quando fosse servida pela estrada de ferro, o que realmente aconteceu. 

Tschudi percorreu algumas propriedades agrícolas em nossa região, procurando ouvir colonos de origem suíça ou alemã (talvez já agindo como futuro embaixador), pois na Europa corriam notícias acerca de problemas que estes estariam enfrentando. 

De uma delas, o Sitio Grande de Santo Antonio, que ficava a duas léguas (cerca de doze quilômetros) da cidade, pertencente ao Comendador Antonio de Queiroz Silva Telles, (mais tarde Barão de Jundiahy), obteve boa impressão, tendo afirmado que o fazendeiro, já septuagenário, pois nascera em 1789, era "homem geralmente respeitado, digno e honesto, apesar de ás vezes no primeiro momento parecer um pouco áspero. Nunca fora duro ou injusto para com os colonos”. Sua colonia, composta de 16 famílias do Unterwalden (cantão suíço), desenvolvera-se desde o começo, com muita regularidade, porque o fazendeiro respeitava religiosamente os contratos. 

De nossa cidade, após alguns dias, partiu Tschudi para Campinas.

Um comentário:

  1. gostei muito saber da história de nossa cidade,que não é encontrada facilmente

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