sexta-feira, 29 de julho de 2016

UM CRIME MAL EXPLICADO EM BOTUJURU


As linhas da EF Santos a Jundiaí passam por um túnel de 590 metros de comprimento, situado entre a cidade de Francisco Morato (antigamente chamada Vila Bethlem) e o bairro de Botujurú, atualmente pertencente ao município de Campo Limpo Paulista

A estrada de ferro foi inaugurada em 1867, e o jornal Correio Paulistano narra um acontecimento terrível ocorrido na região: segundo o jornal,  um grupo mais de 30 portugueses emboscou 2 brasileiros; estes reagiram e mataram 3 dos portugueses, saindo os brasileiros apenas levemente feridos - uma história difícil de acreditar, levando em conta o tamanho dos dois grupos...

Note-se que quando as autoridades chegaram ao local, enterraram ali mesmo os mortos, pois pelo estado de decomposição dos corpos, não foi possível leva-los para o cemitério mais próximo. 

Os fatos ocorreram em 11 de janeiro de 1863 - seria interessante conhecer os motivos e os desdobramentos do caso. 

A foto mostra uma  "litorina"  entrando no túnel - esses trens já foram objeto de outro de nossos posts: "LITORINA: LIGANDO SÃO PAULO A CAMPINAS COM CONFORTO E SEGURANÇA" 


domingo, 24 de julho de 2016

WALDOMIRO LOBO DA COSTA - UM PREFEITO QUE FOI ALÉM DAS FRONTEIRAS DE NOSSA CIDADE

Waldomiro Lobo da Costa foi prefeito de nossa cidade de 1927 a 1930; exerceu inúmeros cargos públicos - foi deputado, presidente do Tribunal de Justiça Militar do Estado de São Paulo (1956-1958), etc. 

Como curiosidade, cabe dizer que em 1928, sob sua gestão, foi construído o muro na base do "Escadão" - 76 metros de comprimento por dois de altura; em 1929, foi feito  o projeto da escadaria e dos passeios pela inclinação do morro, bem  como do belvedere da parte superior, com vista para a Vila Arens. À época, o local era chamado "Morro do Grupo", numa referência ao então Grupo Escolar Cel. Siqueira de Moraes, situado nas proximidades.

Mas há um fato curioso e pouco conhecido a respeito de sua vida: foi condecorado pelo rei da Itália com a "Cruz de Cavaleiro da Ordem da Coroa", que lhe foi entregue em nossa cidade pelo cônsul geral da Itália em São Paulo, Serafino Mazzolini - a entrega ocorreu em maio de 1930. 

A entrega foi motivo para grandes festividades, segundo o "Correio Paulistano" de 14 de maio de 1930. Inicialmente, houve um grande jantar, presentes membros de famílias de destaque de nossa cidade: Queiroz Guimarães, Rappa, Traldi, De Vecchi, Gandra, Castilho, os doutores Samuel Martins e Domingos Anastácio e outras pessoas de destaque. 

O cardápio foi composto de diversos pratos e vinhos finos, ao final do qual Waldomiro ergueu um brinde ao cônsul e à sua mãe que o acompanhava. O cônsul, respondeu com "brilhante e comovida oração". Mais tarde, um baile no Grêmio CP, que se prolongou até a manhã seguinte; mesmo no baile, mais discursos aconteceram. 

No dia seguinte, o cônsul visitou o bairro do Traviu, tendo sido recebido na residência do (mais tarde) Comendador Antonio Carbonari com mais discursos e uma mesa de doces e champanhe.

Para o almoço, às 13 horas, houve  um banquete (70 talheres), desta vez nos salões do "Casino Jundiahyense". O serviço refinado, aos cuidados de Angelo Semenza, foi acompanhado pela musica do "Jazz" (banda) Oriental (de que já falamos em outro post) e seguido, como de praxe, por mais discursos.

A seguir, a parte mais interessante da visita: o grupo dirigiu-se para a sede do Fascio de nossa cidade - Fascio era o nome dado a um
grupo local de fascistas. Essa sede, segundo o jornal, ficava nos "altos do Polytheama" - seria o prédio do teatro? 

A seguir, no teatro propriamente dito, completamente lotado, aconteceu a entrega da condecoração. A solenidade foi abrilhantada pela Banda Ítalo-Brasileira (mais tarde União Brasileira), que executou os hinos nacionais do Brasil e da Itália e o hino "Fascistas". 

E mais discursos, do cônsul, de jornalista, do juiz de direito - até chegar-se ao homenageado, que entre outros elogios ao governo fascista de Mussolini, disse que "ao salvar a Itália das  terríveis consequências da invasão moscovita, havia salvado toda a civilização cristã"! Disse também que, com a alma de joelhos, queria depor um ósculo respeitoso nas mãos da velhinha que dera à Itália um filho do valor de Serafino Mazzolini, o Cônsul...

Encerrou-se a cerimônia com a Banda executando o Hino Nacional e a canção "Giovinezza", o hino do Partido Fascista.

E como o  pessoal gostava de festas: o cônsul partiu para São Paulo no trem das 19 horas, e às 21, Waldomiro, com a condecoração no peito, abria as comemorações do 22ª aniversário do Gabinete de Leitura Ruy Barbosa - mais um baile, que se prolongou até a madrugada, não sem antes um discurso de 40 minutos do orador da entidade, o juiz de direito Samuel Martins...

Quanto a Mazzolini, teve uma brilhante carreira diplomática, morrendo em 1945 aos 55 anos, vítima de diabetes, agravada pela falta de medicamentos provocada pela guerra. 

Ao saber de sua morte dele disse Mussolini: "era un collaboratore onesto, intelligente, buono e devoto, quale raramente ho avuto. Gli Esteri (Ministério de Relações Exteriores) perdono un Capo insostituibile e l'Italia un patriota esemplare".

quinta-feira, 21 de julho de 2016

ALBA ROSSA - UM JORNAL ANARQUISTA

O primeiro número do  semanário "Alba Rossa" (Aurora Vermelha) circulou em 10 de maio de 1919.

Escrito em italiano  era voltado ao grande número de italianos recém chegados ao Brasil; seus editores apresentavam-se como anarquistas, defendendo os ideais comunistas que estavam sendo implantados pela Revolução Soviética. Ironicamente, comunistas e anarquistas tornaram-se inimigos mortais (literalmente) depois de alguns anos - na Guerra Civil espanhola dedicaram-se alegremente a massacrar uns aos outros, facilitando a vitória das tropas de Franco.

O jornal era dirigido por Silvio Antonelli, um operário da construção civil; o recorte ao lado, da primeira edição, relaciona o grupo que editava o jornal e dá uma ideia do tom da publicação.

O jornal trazia comentários acerca de uma greve que estava acontecendo em várias partes do país - a greve continuava em Sorocaba com a ocorrência de conflitos entre grevistas e polícia. Conforme recorte abaixo, o jornal dizia que em Jundiaí, Campinas e Poços de Caldas a greve continuava de forma mais pacífica - com fina ironia, afirmava que "a polícia, ao que parece, não se mostrava à altura da situação. Ainda não havia matado nenhum menino..."!

domingo, 3 de julho de 2016

NEPOTISMO, PRAGA ANTIGA

Nepotismo (do latim nepos, neto ou descendente) é o termo utilizado para designar o favorecimento de parentes  ou amigos em detrimento de pessoas mais qualificadas, especialmente no que diz respeito à nomeação ou promoções em uma organização qualquer.

É uma praga antiga, inclusive no Brasil.  Logo após chegar aqui em 1500, Pero Vaz de Caminha, que era o escrivão da frota de Cabral, teria embutido no relatório da viagem que fez ao rei de Portugal, um pedido para que seu genro recebesse um cargo público. 

O jornal "Correio Paulistano", em sua edição de 17 de dezembro de 1875, publica uma carta assinada por um "jundiahyano na côrte", provavelmente alguém de nossa cidade que ali vivia, denunciando um ato de nepotismo - a carta era destinada ao Imperador, através do Ministro da Justiça. 

Dizia a carta que o juiz de Santos,  Porchat de Assis, esperava brevemente ser nomeado para nossa cidade, pois um certo Amaral, que ocupava esse cargo em nossa cidade, esperava ser transferido para o Rio de Janeiro.

O juiz Porchat era sobrinho do conselheiro Duarte de Azevedo, ex ministro da Justiça, que "nipoticamente" trabalhava pela transferência do sobrinho para Jundiaí. 

Em sua carta. nosso conterrâneo reclamava do fato de estarem sendo preteridos outros juízes mais antigos, pois Porchat tinha 20 e poucos anos de idade e acabara de completar seu primeiro quatriênio (provavelmente, período de quatro anos como juiz). 

Concluía a carta a afirmação que o pessoal da terra não aceitaria a nomeação de bom grado. 

Como se disse, praga antiga e resistente.