A praça na atualidade |
Na cidade de Campinas, no dia 9 de novembro de
1835, no largo de Santa Cruz (hoje Praça XV de Novembro), foi enforcado e
esquartejado o escravo Elesbão. Elesbão foi condenado por ter assassinado,
no dia 20 de maio de 1831, o seu senhor, o capitão Luiz José de Oliveira, tendo
a seguir bebido seu sangue. No processo, foram interrogados 18
escravos e 35 outras testemunhas.
Segundo o processo, Elesbão era "um
africano, pertencente à nação cabinda, de estatura ordinária,
rosto comprido, testa pequena, cabelos encarapinhados, nariz chato, boca
resgada, beiços grossos, pouca barba, e parecendo ter vinte anos,
solteiro".
O crime teria sido cometido por Elesbão e por outro escravo, Narciso, que pertenciam ao Capitão e haviam fugido, voltando para mata-lo. Narciso foi preso e executado no dia 24 de maio de 1833, em São Paulo. Elesbão estava foragido, mas em 1835 foi capturado por capitães do mato; sempre se declarou inocente, dizendo serem os criminosos Narciso e Luiz Congo, escravos que queriam fugir do castigo acusando-o.
O crime teria sido cometido com o uso de faca (Elesbão) e foice (Narciso), e o motivo teria sido o excesso de trabalho dado aos escravos; o capitão teria também abusado de uma namorada do escravo. O Capitão era dono do Engenho Romão, situado entre Jundiaí e Itu, e os assassinos viviam em um quilombo situado na região de Itatiba, onde viviam sete escravos fugidos desse engenho, inclusive Luiz Congo.
A execução era um espetáculo público – muitos donos
de escravos enviavam os seus para o assistirem, como forma de “educação”.
Conta-se que um cortejo saiu da cadeia, formado pelas autoridades, réu, vigário
e pelo carrasco; a seguir, a infantaria da Guarda Nacional e fechando o préstito
a cavalaria da mesma Guarda.
Dirigiram-se todos à Matriz, onde foi realizada
missa da qual o condenado tomou parte. Em seguida, o grupo desfilou pelas ruas
mais importantes da cidade, seguindo para o local do suplício, onde a sentença
foi cumprida por volta do meio dia, tendo Elesbão, mais uma vez, afirmado ser
inocente.
À sentença de condenação à morte, foi acrescentada
pelo juiz José Mendes Ferraz a determinação que se segue: “declaro que
depois do réu sofrer a pena de morte cortar-se-ão as mãos e a cabeça; esta será
remetida para a Vila de Jundiaí, e ali colocada num poste em lugar público e
aquelas serão colocadas nesta Vila em um poste também em lugar público”.
A burocracia já imperava: o referido juiz mandou entregar a cabeça ao juiz de
nossa cidade, acompanhada de uma carta que dizia: “o portador desta
entregará a Vª. Sª. a cabeça do justiçado Elisbão, para Vª. Sª. mandar
coloca-la em um poste, em lugar público, conforme determina a sentença aplicada
ao mesmo. Vª. Sª. me remeterá o recibo para constar” – o juiz de
Campinas pedia o recibo da cabeça!!! A burocracia realmente já imperava.
E mais um detalhe macabro: a carta de remessa da
cabeça estava datada de 10 de dezembro, um mês após a execução! A cabeça
foi colocada em uma caixa e envolvida em sal, e foi trazida a Jundiaí por dois
portadores, que receberam pelo trabalho 4 mil e quatrocentos réis - a forca
havia custado 33 mil réis e o facão usado para cortar a cabeça e as mãos custou
um mil e seiscentos réis. Segundo recomendação da Câmara Municipal de Campinas,
a forca deveria ser construída "com alguma segurança e
firmeza, para servir em outras ocasiões semelhantes."
Infelizmente crueldades seguem ocorrendo e a
burocracia dominando...
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