quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

PAOLETTI - TAMBÉM PERDEU-SE NA POEIRA DO TEMPO

Companhia Industrial e Mercantil Paoletti S.A. foi fundada em 1955, operando inicialmente em Várzea Paulista, à época um bairro de Jundiaí. Tem suas origens em uma pequena empresa importadora e  envasadora de azeitonas chamada Audax (ou Audaz), que foi adquirida por Carmelo Paoletti e que acabou se transformando em uma indústria de produtos alimentícios de grande porte. 

Diz-se que a região de Várzea tinha dois problemas sérios: o primeiro a carência de água, insumo essencial para a fabricação de conservas, sendo o segundo a presença na região da Elekeiroz, fabricante de produtos químicos, cujas chaminés lançavam no ar gases corrosivos que oxidavam as latas utilizadas para os produtos Paoletti. Para evitar esse problema, Paoletti construiu uma nova fábrica em   Cajamar, local sugerido por Arnaldo Rojek, antigo funcionário da CICA que viria a ser um dos diretores da Paoletti e mais tarde, fundador da Metalgráfica Rojek, também localizada em Cajamar. 

A empresa cresceu muito, tendo inclusive aberto outras fábricas, a maior delas em Araçatuba. Tinha forte presença na mídia, como mostra o comercial de TV que pode ser visto clicando-se ao pé deste post. 

Para tentar superar a situação, a empresa acabou recorrendo a empréstimos do BNDES, que acabaram não sendo pagos e gerando conflitos que levaram esse banco em 1979 a passar seu controle para o Grupo Simeira, que entre outras empresas controlava as Lojas Arapuã e o Banco Fenícia - esses novos controladores também não conseguiram reerguer a empresa, que acabou fechando as portas mais tarde - a marca Etti acabou ficando em poder da Bunge, uma grande empresa na área de produtos alimentícios. 

Paoletti continuou atuando no ramo, tendo adquirido em 1985 a Coniexpress, uma pequena empresa de Jundiaí que no início de suas atividades fabricava casquinhas para sorvete - localizava-se na Vila Jundianópolis.

Essa empresa, quando adquirida por Paoletti, detinha a marca Quero e acabou tendo uma linha de produtos similar à que a Paoletti tinha. Transferiu-se para a cidade de Nerópolis (Goiás) e em 2011 foi vendida para o grupo americano Heinz, que, curiosamente foi vendido no início de 2013 para uma sociedade formada pela  Berkshire Hathaway, holding do investidor americano Warren Buffet e a firma brasileira de investimento em participações 3G Capital,   por US$ 23 bilhões; foi uma das maiores aquisições do setor alimentício de todos os tempos.

Paoletti morreu em 2012, aos 81 anos.









domingo, 25 de dezembro de 2016

O CORINTHIANS JUNDIAHYENSE E A UNIÃO FEMININA CORINTHIANA

Em outubro de 1935 a imprensa noticiava o primeiro aniversário da União Feminina Corinthiana, formada por mulheres que apoiavam o clube da Vila Arens.
O aniversário seria comemorado por um "sarau dansante", um baile, que aconteceria no "Theatro República", foi depois o Cine República e abriga hoje uma agência bancária. No Baile, tocaria "um escolhido jazz-band da Capital",

É muito interessante ver, como há mais de 80 anos, existia uma entidade como essa; na atualidade, infelizmente, é praticamente impossível pensar em algo parecido, ficando claro o quanto caiu o nível do ambiente futebolístico... 

Vale lembrar que o Corinthians Jundiahyense Foot-Ball Club foi fundado em 1913 e foi o   Campeão do Interior Paulista de 1920. Naquela época, os campeões do interior e da capital, disputavam o título estadual. O campeão da capital foi o Palestra, que armou uma maracutaia para ficar com o título - não houve a disputa. 


O Corinthians Jundiaiense tinha um estádio para 8 mil espectadores, que ficava na Vila Progresso, onde hoje fica a Dubar. Sua sede era um grande sobrado que depois ficou com o Colégio Divino Salvador - a foto abaixo, do acervo do Prof. Maurício Fernandes, mostra o prédio da sede, provavelmente já pertencendo ao Divino. 

Com o surgimento de outros clubes e afastamento daqueles que bancavam a maior parte das despesas, o clube foi se apequenando, até desaparecer definitivamente no início da década de 1960.





domingo, 18 de dezembro de 2016

UM MALUCO FAZ UM POUSO FORÇADO EM JUNDIAÍ

Em outubro de 1937 a imprensa noticiava o pouso forçado de um avião em nossa cidade. O piloto voava do interior para São Paulo, quando, forçado pela ausência de visibilidade, pousou na região da Vila Progresso. 

O avião pertencia à escola de aviação de Ribeirão Preto e passou a noite guardado por soldados da polícia; o pilôto, Juvenal Paixão passou a noite no Jundiahy Hotel e decolou no dia seguinte. 

Paixão era um entusiasta da aviação, tendo tido, entre outros encargos,  o de primeiro instrutor dos aeroclubes de São José do Rio Preto e Taubaté.

Também deveria ser um tanto quanto maluco, como muitos dos aviadores da época: durante a Revolução de 1932, a bordo de um Falcon (foto abaixo) pilotado pelo americano Horton Hoover, decolou do Campo de Marte, em São Paulo, indo a  Mato Grosso, com o objetivo de atacar o monitor Pernambuco, fundeado no Rio Paraguai, próximo a Porto Esperança. Seu observador era Paixão, e consta que em cinco ataques, o avião causou sérios danos ao navio (foto abaixo). 

Hoover foi instrutor dos aviadores da Força Pública e da Aviação Naval, tendo nos anos 1950 sido nomeado cônsul dos Estados Unidos em Santos. Faleceu em São Paulo em julho de 1958.


  

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

ADQUIRINDO O TERRENO PARA O NOVO QUARTEL

Em 31 de março de 1942, o comandante da então II Divisão de Infantaria oficiou ao Prefeito de Jundiaí pedindo que a Prefeitura colaborasse com 200 mil contos de réis para a aquisição da antiga Chácara Rami, área onde viria a se instalar o atual 12º GAC - essa colaboração teria sido oferecida anteriormente pela Prefeitura. Para se ter uma ideia desse valor, o primeiro prêmio da Loteria Paulista à época era de 250 mil contos.

Dizia o ofício que o Exército pretendia instalar na área um Regimento de Artilharia de Dorso, unidade maior que o então Grupo de Artilharia de Dorso que estava sediado em nossa cidade.

No ofício, dizia o comandante que o dinheiro cedido pela Prefeitura retornaria ao município a um ritmo de mil contos ao mês, em função da presença de maior número de militares e vendas e serviços prestados à nova unidade. 

A aquisição foi concretizada, não sabemos se com ou sem a cooperação da Prefeitura, mas em 1943, o 2º GADo já se exercitava e promovia provas hípicas na área - a unidade utilizava equinos e muares intensivamente. Mas o regimento não se instalou - mudanças tecnológicas acabaram levando a unidade a se transformar, a partir de 1946, no 2º GO 155. 


Algumas das edificações existentes na Chácara Rami foram preservadas: a principal, a casa sede, é ocupada pelo Hotel de Trânsito do GAC; no imóvel, residia a família Cardia, proprietária da Cerâmica Rami, depois Cidamar e hoje Roca.  As fotos mostram imagens da casa à época e na atualidade. 

O general Maurício José Cardoso, que assinou o ofício dirigido à Prefeitura, teve uma carreira militar brilhante: maranhense, ingressou no Exército em 1895,  aos quinze anos, como soldado, servindo no então 5º Batalhão de Infantaria. 

Ali, atingiu a graduação de 2º sargento, tendo ingressado na antiga Escola Militar da Praia Vermelha em 1902; em 1906, foi declarado aspirante-a-oficial, já da Escola de Guerra de Porto Alegre. Promovido a segundo-tenente em janeiro do ano seguinte, tornou-se primeiro-tenente em junho de 1912. Faleceu em 1968.

Era da arma de Engenharia. Seu mais alto cargo no Exército foi o de Chefe do Estado Maior do Exército; era General de Divisão, à época, o mais alto posto. 

Foi também o idealizador do movimento para construção do monumento ao Duque de Caxias, em São Paulo, inaugurado em 1960 e de autoria de Victor Brecheret. Na foto abaixo, o general Cardoso com Getúlio Vargas, em 1938.


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sábado, 10 de dezembro de 2016

O "ASSUCAR SANTA MARIA" NOS LEVA A MOACYR LOBO DA COSTA

Pesquisando para escrever um pouco sobre a história de nossa cidade, descobrimos que a Folha da Manhã de 1º de julho de 1932 noticiou a inauguração da Refinadora Santa Maria, que processaria açúcar. A empresa, de propriedade de Luiz Bocchino, localizava-se à Av. Dr. Cavalcanti "em prédio amplo e bem arejado".

Como era praxe nessas ocasiões, várias pessoas discursaram, mas a nota nos remete a um personagem pouco conhecido em nossa cidade: Moacyr Lobo da Costa, então com 19 anos, que falando em nome de Bocchino, "agradeceu as palavras dos oradores que lhe antecederam".

Moacyr era irmão de Waldomiro Lobo da Costa, que fora prefeito de nossa cidade e de quem já falamos neste blog. Era o mais novo de nove irmãos. 

Na casa da família Lobo da Costa respirava-se cultura:  era frequentada pelo artista plástico Rebolo Gonzales, pelo poeta Menotti Del Pichia e pelas pianistas Guiomar Novaes e Magda Tagliaferro, todos amigos  de Múcio, um de seus irmãos, que faleceu prematuramente.  Na casa, existiam três pianos, um de armário, um de cauda e um de meia cauda, sendo que uma irmã de Moacyr, Virgínia, tornou-se professora de música.

Aluno do célebre "Gymnásio Culto à Sciencia" em Campinas,  Moacyr tinha que se deslocar diariamente, de trem, de Jundiaí até aquela cidade. Formou-se em 1932, tendo participado da Revolução Constitucionalista naquele ano.

A seguir, estudou Direito, graduando-se em 1937 no Largo de S. Francisco, onde foi professor por muito tempo. Em 1941, casou-se com Isa, também natural de Jundiaí, e integrante da  família Canguçu.

Seu pai, Morivaldo era funcionário da Cia. Paulista, e Moacyr seguiu seus passos, atuando na área jurídica da empresa de 1941 até aposentar-se em 1972. 

Auxiliou também a implantação da Faculdade de Direito da PUC de Campinas, além de ter escrito muito sobre a área processual. 

A seu respeito, escreveu em 2006 seu antigo aluno Acácio Vaz de Lima Filho: "Meu velho mestre foi organizado até para morrer, o que pode parecer um paradoxo. Dispôs dos seus bens — que não eram muitos — repartindo-os entre os seus filhos. Deixou registrada a sua vontade de que o seu corpo fosse cremado, descendo ao detalhe de escolher a música que seria executada no crematório. Foi velado onde viveu: — na sua Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, envergando a beca — companheira e veterana de muitos concursos — e cercado pela família, bem como por uma legião de antigos alunos, da Academia de São Paulo e da PUC, de Campinas".

É muito bom quando escrevendo sobre um assunto tão prosaico, como a inauguração de uma pequena empresa, somos levados a conhecer um personagem tão ilustre como Moacyr Lobo da Costa - será que Jundiaí não lhe deve homenagem? 

E para voltar ao assunto inicial: a Folha termina sua matéria dizendo que "a sahida foi oferecida aos convidados uma amostra do excellente assucar Santa Maria".


domingo, 4 de dezembro de 2016

EM 1929, A POLÍCIA JÁ ERA CULPADA...



Muita gente, inclusive da imprensa, tende a chamar a Polícia de "truculenta" (e de coisas piores), não importando as circunstâncias em que ocorrem fatos em que estejam atuando membros da corporação. Noticiava a "Folha da Manhã" de 6 de fevereiro de 1929, que um "caboclo", José Augusto de Araújo Cintra, agredira violentamente a uma pessoa no interior de um bar situado na rua Adolpho Gordo (hoje Zacarias de Goes). O local ficava na "zona boêmia" de nossa cidade, e a vítima ficara gravemente ferida. O agressor era um "ficha suja": já havia assassinado uma pessoa em Socorro. 

Acionados, dois soldados da Força Pública (hoje PM), fardados de forma semelhante aos da foto acima, buscaram deter Cintra, que estava em sua casa, nos altos do Anhangabaú, à época um local remoto.

Quando chegaram, os soldados foram atacados pelo agressor a golpes de enxada. Reagindo, os policiais reagiram a tiros (postura absolutamente normal para quem é atacado), acabando por atingir a companheira de Cintra, que o auxiliava, e que veio a falecer. O agressor, ficou gravemente ferido.

Quanto aos soldados, acabaram presos, aguardando o desfecho do inquérito instalado para apurar os fatos...