segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

ALMEIDA SALLES: UM DOS MAIS IMPORTANTES INTELECTUAIS JUNDIAIENSES

Almeida Salles
Francisco Luiz de Almeida Salles, falecido aos 84 anos em 1996, nasceu em nossa cidade em 1912; ao que consta, viveu em uma casa que existiu na Rua General Carneiro, em área hoje ocupada pelo Colégio Divino Salvador.
Personagem muito pouco conhecida em nossa cidade foi um intelectual muito destacado.  Tomou parte na Revolução de 32 e participou do movimento integralista. Católico, devoto de São Francisco, em 1938   concluiu a Faculdade de Direito do Largo de São Francisco; logo em seguida ingressou no   serviço público, tendo ocupado mais tarde o cargo de  Procurador do Estado.
Era conhecido entre seus amigos como “Presidente”: durante  50 anos foi presidente da Cinemateca Brasileira em seus vários formatos jurídicos, desde sua origem como Clube de Cinema de São Paulo, terminando como presidente de honra do  conselho da instituição, hoje instalada na Vila Clementino, em prédio de 1894 onde funcionou o Matadouro Municipal .
O barzinho do MAM
Durante décadas presidiu a Associação dos Amigos do Museu de Arte Moderna, que manteve o barzinho do MAM, e que por muitos anos funcionou na Av. Ipiranga - tivemos a oportunidade de frequentar o local durante algum tempo, até seu fechamento.
Era uma personagem cativante: todos o queriam por perto, no trabalho, nos eventos, no convívio social. Em Paris, Veneza, Roma, Rio, São Paulo ou em tantos outros lugares que frequentou, a mesa do bar escolhida por ele seria a privilegiada.
Não exagerava no falar, sempre deixava as reuniões fluírem, ouvindo a todos com a mesma atenção, sem preconceitos, deixando todos  à vontade, fosse o mais simples e mal informado dos mortais, fossem os intelectuais, políticos ou empresários  com os quais conviveu, dentre eles  Burle Marx, Ulysses Guimarães, Franco Montoro,   Vinícius de Moraes,    Cicillo Matarazzo, Di Cavalcanti, José Lewgoy,  Luiz Martins, Cícero Dias; foi amigo de outro personagem pouco conhecido por aqui mas muito ligado à nossa cidade, o Dr. Hugo Ribeiro de Almeida.
Dentre os amigos havia também aquele que chamava "meu mendigo": um sem-teto que    todas as noites recebia dele algumas moedas, numa calçada próxima à sua residência, na praça da República em São Paulo - residia no Edifício Esther, onde também se localizava o consultório do Dr. Hugo.
O prédio atual da Cinemateca
Almeida Salles foi crítico e ensaísta cinematográfico; escreveu regularmente para os jornais "Diário de S.Paulo e "O Estado de S.Paulo", especialmente nas décadas de 1940 e 1950 – contribuiu também para outras publicações.
Em 1988 publicou "Cinema e Verdade", coletânea de críticas (Companhia das Letras). O cinema, apesar da importância que teve em sua vida e da contribuição que deixou nesse campo, foi apenas um dos interesses de Almeida Salles. Com sua modéstia característica, dizia   que não se sentia um especialista na área.  Também deixou um livro de poesia "Espelho da Sedução" (Art Editora).
Serviu como  adido cultural à embaixada brasileira em Paris.
A presença de Almeida Salles em tantos eventos e circunstâncias de nosso desenvolvimento cultural muitas vezes não foi devidamente registrada.
Rudá de Andrade dizia que   sua contribuição para a cultura brasileira foi notável e merece  um levantamento metódico, para termos um panorama mais lúcido de nossa história cultural.

A RUA ENGENHEIRO MONLEVADE E SEU PATRONO

A atual rua Engenheiro Monlevade chamou-se inicialmente rua do Pelourinho, depois Bela Vista e a partir de 1893, Dias Carneiro. 

Francisco Paes Leme de Monlevade, que dá nome à rua, nasceu  no  Rio de Janeiro em 1860, tendo começado a trabalhar na Cia Paulista de Estrada de Ferro  em 1897. 

Foi um dos pioneiros do processo de eletrificação de nossas ferrovias, tendo dirigido os trabalhos de eletrificação do trecho Jundiaí-Campinas, concluídos em 1922.  A foto abaixo mostra-o (de cavanhaque) em uma das primeiras locomotivas elétricas da Paulista.

Foi também Secretário dos Transportes de nosso estado e diretor da E. F. Sorocabana, após aposentar-se da Cia. Paulista. 

Faleceu em 1944, no Rio de Janeiro.


domingo, 28 de fevereiro de 2016

FUTEBOL: O TORNEIO INÍCIO DE 1934

No passado, antes de se iniciarem os campeonatos de futebol, realizava-se o Torneio Início. 

Eram jogos curtos, normalmente de 30 minutos, com eliminatórias simples, do tipo "mata-mata". Se houvesse empate, os jogos eram decididos pelo número de escanteios; persistindo o empate, pênaltis. 

Em 8 de abril de 1934, a Liga Jundiahyense de Futebol realizou o Torneio Início daquele ano; o campeão foi o Corinthians Jundiahyense Football Club, de que já falamos aqui - os resultados estão na tabela abaixo, publicada pelo extinto jornal "A Gazeta Esportiva":

  
Além do Corinthians, disputaram o Torneio o S.P.R. (São Paulo Railway, hoje Nacional, da Vila Arens), o Paulista, o São João e o Ipiranga, clubes que ainda existem. Quanto ao Operário e ao Palestra, não conseguimos maiores informações. 





PERIGOS DO CICLISMO

Nos últimos dias tragédias abalaram nossa cidade: ciclistas foram atropelados e mortos. 

No entanto, não é de hoje que o ciclismo nos traz problemas (obviamente traz também muitos benefícios): em sua edição de 29 de julho de 1900, o jornal "O Estado de S. Paulo" noticiava o atropelamento de uma criança e que alguns dias antes acontecera o mesmo com uma "pobre velha", que precisou ser atendida no Hospital São Vicente. 

O tempo passa e os problemas continuam mais ou menos os mesmos...






quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

O CLUBE JUNDIAIENSE


O Clube Jundiaiense foi fundado no dia 18 de agosto de 1944, tendo surgido como produto da fusão de duas outras sociedades: o Cassino Jundiaiense e a Sociedade Tênis Paulista. Mas para entender a história do Clube é preciso voltar no tempo e resgatar as origens destas duas sociedades. Até o final do século XIX, não havia em Jundiaí um local para encontros sociais, culturais e esportivos. 


Preocupados com isso, as principais lideranças da cidade se uniram e fundaram o Clube União, que teve como primeiro presidente Francisco de Paula Penteado. Nascido em 16 de janeiro de 1898, o Clube União localizava-se à rua Francisco Glicério, atual rua do Rosário. Ele teve seu nome substituído para Cassino Jundiahyano, por proposta do deputado federal Eloy Chaves, que considerava o novo nome mais representativo; posteriormente, passou a ser chamado Cassino Jundiaiense. 

No portal do Clube Jundiaiense, existem mais informações sobre a história do Cassino.

A Sociedade Tênis Paulista foi fundada em 23 de janeiro de 1930 por funcionários da Companhia Paulista de Estrada de Ferro com a finalidade da prática do tênis, esporte que começava a ser praticado em no país – a Paulista também foi o berço de dois clubes que já apresentamos aqui, o Paulista FC. e a Esportiva. O primeiro presidente da STP foi  Durval de Azevedo. A sociedade instalou-se onde hoje é a Sede Central do Clube, mostrada na foto acima no final dos anos 1940. Foram construídas, na época, uma quadra de tênis e uma casinha de madeira. 

Nos anos 40, o Cassino Jundiaiense possuía uma boa situação financeira, mas não tinha patrimônio. Já a Sociedade Tênis Paulista tinha patrimônio, mas não tinha dinheiro. Levando em conta que seus quadros sociais eram formados basicamente pelas mesmas pessoas, surgiu a ideia da fusão, criando  uma sociedade forte. Em 18 de agosto de 1944, os presidentes Fernando Saraiva, do Cassino Jundiaiense e Raphael Mauro, da Sociedade Tênis Paulista, encaminharam o assunto para uma assembléia, da qual surgiu o Clube Jundiaiense. 

Em seguida à fusão, o primeiro presidente do Clube, Jurandir Souza Lima, deu início a construção da Sede Central, onde se localizava a Sociedade Tênis Paulista, como já se disse. No final de 1947, já estava pronta e passou a ser um ponto de referência para as atividades culturais, sociais e esportivas da cidade - a foto mostra-a em 1956.

Em 1953, sediou os Jogos Abertos do Interior, pois era o único clube da cidade com quadra de tênis  Em 1960, na gestão do presidente José Godoy Ferraz, o Clube adquiriu uma área de terra de 10 alqueires na estrada Velha de Campinas, iniciando a construção da Sede de Campo, um local maravilhoso.  

Dando seqüência à sua tradição de aglutinador, o Clube Jundiaiense uniu-se ao Comercial, tradicional clube de futebol de nossa cidade, permitindo a sobrevivência deste.  

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

PURA PERDA DE TEMPO

Não é de hoje que nossa Câmara Municipal perde tempo discutindo e votando requerimentos e moções cuja utilidade é nula: na reunião de 1º de agosto de 1900, os vereadores aprovaram uma moção de pesar pelo assassinato de Umberto I, rei  da Itália.  

O rei, cujo nome completo era  Umberto Rainerio Carlo Emanuele Giovanni Maria Ferdinando Eugenio di Savoia foi morto a tiros por um anarquista em 29 de julho daquele ano, aos 56 anos de idade; já havia sofrido um atentado anteriormente.

Mas as coisas não pararam por ai: quando o Presidente Kennedy foi morto, nossos vereadores também aprovaram moção semelhante.  Imaginemos quanto tempo, papel e tinta são gastos com inutilidades dessa espécie...

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

ARTHUR DE VECCHI - UM PIONEIRO DA UVA

Em nosso post anterior falamos acerca da chegada da cultura da uva em nossa cidade. 

Hoje falaremos de um de seus pioneiros: Arthur De Vecchi, que nasceu na Itália em 1868, tendo chegado ao Brasil em 1908, depois de ter vivido alguns anos na Argentina. Ao chegar, instalou-se   no Município de Campos, no estado do Rio de Janeiro, onde adquiriu uma usina de açúcar. 

Transferiu-se posteriormente para Jundiaí, instalando-se em um sítio no Bairro da Toca em 1913; ali plantava uvas. 

Em 1918, adquiriu a Fazenda Progresso, próximo à Vila Arens (essa fazenda transformou-se mais tarde na Vila Progresso, parte da qual é chamada Vila De Vecchi), implantando ali, a maior cultura vitícola do país: 360.000 videiras da variedade Seibel 2, numa área de 100 hectares. Era uma propriedade modelar: ali atuava um engenheiro agrônomo (G. Cunha), aplicava-se fertilizantes químicos e eram utilizados equipamentos mecanizados. 

Em 1920, fundou o Estabelecimento Enológico De Vecchi, transformado mais tarde na Companhia Viti-Vinícola Paulista S.A. (1928). A empresa funcionava à avenida Dr. Cavalcanti, ao lado direito de quem vai para o centro da cidade, pouco antes do prédio hoje ocupado pela Receita Federal (que fica do lado esquerdo) - no prédio, hoje demolido, funcionaram a fábrica de refrigerantes Ferraspari e a indústria de bebidas Caldas. 



Infelizmente pouca informações conseguimos levantar sobre a empresa, salvo o registro dos rótulos de alguns de seu produtos, publicado no Diário oficial de julho de 1936, cuja imagem está abaixo. Existem no mercado espumantes da marca Líder, mas não pudemos estabelecer qualquer ligação com a empresa de De Vecchi. 


domingo, 21 de fevereiro de 2016

JUNDIAÍ JÁ PRODUZIU MUITO AÇUCAR E CAFÉ

Percorrendo nossa zona rural é muito difícil encontrar plantações de cana de açúcar e café. 

Mas isso já foi muito diferente: ao abrir a Assembleia Legislativa Provincial no dia 15 de Fevereiro de 1855, o Presidente (hoje Governador) da Província de São Paulo apresentava dados acerca do assunto referentes ao ano de 1854, que podem ser resumidos conforme o quadro abaixo:

                                                                                  
Açúcar
Café
Fazendas produtoras
19
57
Agregados (empregados)
60
66
Escravos
720
1.450
Colonos
-
235
Animais de condução (cavalos, mulas, bois etc.)
400
820
Produção em arrobas (1 arroba equivale a 15 quilos)
22.000
60.000
Valor em contos de réis
50.000
180.000

Nesse ano, uma pequena parte da produção de açúcar (cerca de 5%) chegou a ser exportada; nos anos seguintes, essas culturas foram se movendo para o oeste de nosso estado, passando nossa agricultura a assumir um perfil próximo ao atual, muito influenciado pelos imigrantes italianos, que não cultivavam esses produtos em sua terra natal.

O quadro abaixo "Cana de Açúcar e Café", acrílico sobre tela pintado em 2015 por Rinaldo Santi, nos remete àquela época.


AS CASAS DA PAULISTA

A primeira locomotiva da Paulista
Em 11 de agosto de 1872 foi inaugurada a ligação ferroviária entre Jundiaí e Campinas; entrava em operação a Companhia Paulista de Vias Férreas e Fluviais, depois Companhia Paulista de Estradas de Ferro. 

Em 1890 a Paulista pretendia mudar suas oficinas para nossa cidade. Em função disso, a Câmara Municipal, por indicação do vereador Monteiro de Barros, em sua sessão de 01.09.1890, presidida pelo vereador Siqueira de Moraes, aprovou indicação no sentido de que a Intendência oferecesse à Cia. Paulista, terrenos de sua propriedade, para construção de casas para os operários da empresa. Em fins do século XIX, “Intendência” era o que se chama hoje “Prefeitura”.

Esses terrenos, cedidos de forma gratuita, ficavam próximos ao local onde seriam instaladas as oficinas, o que era muito importante em uma época em que praticamente inexistiam transportes públicos. 

A área, hoje parte da Vila Municipal, ocupa parte do mapa ao lado, nas vizinhanças do cemitério Nossa Senhora do Desterro; as 110 casas nela construídas foram vendidas aos empregados quando a Paulista deixou de existir.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

ÍNDIOS TAMBÉM FORAM ESCRAVOS EM JUNDIAÍ

A escravidão foi uma das páginas mais tristes de nossa história. Na atualidade, associamos a escravidão aos negros africanos e seus descendentes, mas também os índios foram vítimas dessa chaga social.

Bororo
Havia, porém, uma diferença sutil, pouco conhecida: no século XVIII, os índios cativos não eram chamados “escravos”, mas sim “administrados”, porque a Igreja proibia que os naturais da terra fossem escravizados... Como os negros, os índios administrados também podiam ser alforriados.

Para ilustrar essa situação, transcrevemos dois registros de óbitos ocorridos em nossa cidade, o primeiro de 6 de outubro de 1771 (mantida a grafia original):

“(...) faleceo da vida presente Patrício, forro, solteyro, Borórô, com os sacramentos da penitencia e extrema unçam de idade de noventa annos pouco mais ou menos esta sepultado no adro desta igreja, matriz de Jundiahy e fregues dessa freguesia e morador no bairro do Jacarê”.

Já em  11 de janeiro de 1784 consta:
Carijó

“(...) faleceo da vida presente Ignacio, liberto, solteiro, filho de Antonio Gonsalves, e de sua mulher Gertrudes de Brito, carijos forros, moradores no bairro do rio abaixo(...)”.

Note-se que são mencionadas as “tribos” a que pertenciam os falecidos: Bororos, originários do Mato Grosso  e Carijós, que originalmente eram encontrados do sul do estado de São Paulo até o Rio Grande do Sul.

A figura do Bororo é de autoria de  Hercules Florence, pintor francês que participou da  Expedição Langsdorff à Amazônia (1825 - 1829). Ignoramos a fonte da imagem do Carijó. 

Infelizmente cremos que não será possível  saber mais da vida de Patrício e Ignácio.

ALFORRIA

Em 25 de agosto de 1716, Brás Cabral de Landa e sua mulher Maria Tavares, que viviam em nossa cidade, registravam a alforria a seus escravos, os irmãos Domingos e Arcângela. 

A escritura informava que os irmãos eram “filhos bastardos do Brás com uma negra por nome Gracia” e que passavam a ter direito à herança do casal Brás e Maria. 

Fica a pergunta, triste: o que teria acontecido com Gracia?

O PERDÃO

Em 20 de fevereiro de 1676, Dª Maria Cordeiro, residente em nossa cidade,  registrava junto às autoridades o perdão que concedia a José da Silva, que acidentalmente matara seu filho Domingos Cordeiro. 
Consta que o acidente (mencionado como desastre) ocorreu quando José e Domingos conversavam enquanto José manuseava uma pistola de propriedade de Domingos (que a havia deixado sobre um “bofete” – móvel da época). Durante a conversa, a arma disparou, vitimando Domingos. 
Dª. Maria era uma mulher forte: quase trezentos anos depois, Gandhi diria: os fracos nunca podem perdoar. O perdão é um atributo dos fortes.