terça-feira, 30 de outubro de 2018

JUNDIAÍ JÁ TEVE UMA SOCIEDADE HÍPICA


A Folha da Manhã noticiava em 14 de abril de 1946 que fora eleita a nova diretoria da Sociedade Hípica de Jundiaí, formada por pessoas de relevo na sociedade local. 

A nota dizia que a entidade iria realizar uma prova de "caça à raposa", reunindo seus associados. Na Inglaterra do século XIX, a caça à raposa era um esporte de elite: acompanhados por cães, nobres perseguiam raposas com seus cavalos. Nessa missão de captura, o conjunto saltava distintos tipos de obstáculos naturais: troncos, riachos, cercas vivas etc.
 
Mais tarde,  foram criados  circuitos com obstáculos que reproduziam as caçadas, o que existe até hoje, sem as raposas, evidentemente. 

Não conseguimos encontrar qualquer outra notícia a respeito da entidade, embora exista hoje em nossa cidade uma instituição chamada "Hípica Jundiaí", voltada para a prática de esportes equestres, aulas e manutenção e comércio de cavalos - certamente não tem ligação com a entidade objeto da notícia de 1946  .  


domingo, 28 de outubro de 2018

CRUELDADE: CARROCEIRO MATA ANIMAL

A Folha da Manhã de 25 de fevereiro de 1930 trazia uma notícia acerca de crueldade com animais. 

Em Botujurú, bairro de Campo Limpo Paulista e à época pertencente a Jundiaí, Benedicto de Oliveira conduzia uma carroça. Irritado com o desempenho dos animais em uma subida, passou a agredir-los, chegando a matar um deles com uma pancada na cabeça - o desvairado carroceiro ainda mordeu a orelha do animal e acabou sendo preso. 

O animal era de propriedade de seu patrão Biagio Marchetti, um cidadão proeminente na região; valia  cerca de um conto e quinhentos mil réis, algo como 30 mil reais de hoje, em um calculo muito grosseiro, levando-se em conta os preços dos jornais na época (200 réis) e na atualidade (4 reais).

quarta-feira, 24 de outubro de 2018

A ELETRIFICAÇÃO DA COMPANHIA PAULISTA - UM MARCO EM NOSSA HISTÓRIA

Dois símbolos marcaram de forma indelével o nível de excelência da Paulista: seus  trens de luxo azuis e suas locomotivas elétricas, em especial a imponente V8, com suas linhas aerodinâmicas. 

Era um conjunto marcado pela rapidez, conforto e pontualidade. Nunca mais será possível viajar ao interior contando com a comodidade de carros-restaurante, dormitórios, poltronas giratórias individuais...

A Companhia Paulista foi a primeira grande ferrovia brasileira  que eletrificou suas linhas, ainda na década de 1920, num brilhante trabalho do  engenheiro Francisco de Monlevade,  que implantou um sistema que prestou bons serviços por mais de 75 anos - um recorde que demorará a ser quebrado, se é que um dia virá a ser. É oportuno lembrar que durante esse trabalho, teve morte trágica o engenheiro Leonardo Cavalcanti

Os estudos para a eletrificação da C.P. se iniciaram em 1916, quando o Brasil era um país periférico, agrário e sem praticamente nenhuma tradição técnica. A implantação de um sistema sofisticado como esse não incluía apenas a compra e instalação de equipamentos caros e sofisticados para a época, como também implicou no treinamento de maquinistas e empregados pela própria companhia. 

Não haviam escolas, faculdades e universidades que pudessem lidar com o tema no Brasil. E mesmo os técnicos da General Electric e da Westinghouse que aqui vieram acompanhar a implantação do novo sistema de tração, puderam aprender bastante com a experiência da Paulista com esta nova tecnologia.

Após a implantação extraordinariamente bem-sucedida do programa de eletrificação entre Jundiaí e Campinas, a partir de 1922, ele foi paulatinamente estendido ao longo das linhas de bitola larga da Paulista, alcançando Rincão, na linha de Barretos, em 1928. Trinta anos após sua implantação, em 1954, ele atingiu a sua extensão máxima, alcançando Cabrália Paulista, na linha de Bauru.

A foto ao lado mostra a primeira locomotiva elétrica da Paulista; fabricada pela Baldwin Locomotive Works (componentes mecânicos) e Westinghouse Electric Corporation (componentes elétricos), tinha  1627 hp e foi desativada provavelmente na década de 1970.

Infelizmente a grave crise econômica que se abateu sobre as ferrovias após a década de 1950 impediu o prolongamento da eletrificação além desses pontos. Ainda assim, o sucesso da eletrificação foi suficiente para mantê-la funcionando por várias décadas a fio. 

Em 1995, contudo, a administração da Ferrovia Paulista - FEPASA, empresa estatal que havia absorvido a Companhia Paulista em 1971, decidiu que a manutenção da eletrificação era técnica e economicamente inviável, dada a obsolescência do sistema.

Essa decisão administrativa acabou sendo revogada e a eletrificação voltou a funcionar em 1996, ainda que em caráter bastante precário. O golpe de misericórdia veio em 1999, com a privatização da FEPASA: a empresa que assumiu as linhas não se interessou em manter a tração elétrica. O sucateamento da rede elétrica se deu entre o fim de 1999 e início de 2000. 

Um final realmente inglório para uma conquista tecnológica espetacular conquistada num país ainda agrário e inculto.


quinta-feira, 18 de outubro de 2018

EM 1934, A PROMESSA ERA DE QUE TRENS LIGARIAM JUNDIAÍ A SÃO PAULO EM 30 MINUTOS!

São constantes as promessas quanto ao reestabelecimento de um serviço decente de transporte de passageiros entre São Paulo e nossa cidade. 

Já se falou em trem bala, e agora fala-se no Trem Intercidades, que chegaria até Americana. 

Essas promessas levam-nos adotar uma postura cética, na linha do "só acredito quando começar a funcionar", ainda mais que há pelo menos 84 anos já se falava no assunto - pelo menos é o que dizia o jornal "O Globo", de 25 de janeiro de 1934 (!). 

A matéria dizia que a "Ingleza", depois Santos a Jundiaí e agora CPTM havia encomendado novos trens que seriam empregados  na linha da empresa, sendo que o trajeto entre Jundiaí e São Paulo, que era feito em uma hora, passaria a ser feito em 30 minutos. 

Como escrevemos em outro post, quando a ferrovia começou a operar entre Jundiaí em São Paulo, em 1867, o tempo gasto era de duas horas; hoje, além de não haver ligação direta, esse tempo está entre duas horas e duas horas e meia...


sábado, 13 de outubro de 2018

O INTERNATO BOA ESPERANÇA - UMA DAS PRIMEIRAS ESCOLAS DE JUNDIAÍ

Em 1871 havia em Jundiaí uma escola chamada Boa Esperança. Era um internato, onde se ensinava a "ler, escrever, contar, doutrina christã e grammatica portugueza".

A escola era dirigida por Francisco de Paula Sousa Campos, que pertencia a uma família tradicional da região de Campinas. 

A escola situava-se em uma fazenda, no bairro Capivary (ao que parece na região da estrada de Itatiba, próximo ao local onde há uma saída para Louveira) e o preço era de duzentos mil réis por ano; grosseiramente, esse valor equivale hoje a R$ 30 mil.  

segunda-feira, 8 de outubro de 2018

JUNDIAÍ E A REVOLUÇÃO DE 1924

A Revolução de 1924 foi o maior conflito ocorrido na cidade de São Paulo. Teve início na madrugada de 5 de julho e terminou em 28 de julho de 1924. A revolta foi motivada pelo descontentamento dos militares com a crise econômica, o atraso social e a concentração de poder nas mãos de alguns políticos.

Comandada pelo general reformado Isidoro Dias Lopes, contou com a participação de militares do Exército e da então Força Pública, hoje Polícia Militar. Os mais conhecidos foram Joaquim Távora (que morreu na luta), Juarez Távora, Miguel Costa, Eduardo Gomes e João Cabanas. O objetivo principal do levante era depor o presidente Artur Bernardes e implantar o voto secreto, a justiça gratuita e o ensino público obrigatório. 


Os revoltosos ocuparam a cidade por 23 dias, forçando o presidente (como era chamado o governador) do estado, Carlos de Campos, a fugir para o bairro da Penha, depois do bombardeio do Palácio dos Campos Elísios, sede do governo na época.  No interior do estado de São Paulo aconteceram rebeliões em várias cidades, com tomada de prefeituras.

A cidade de São Paulo foi bombardeada por aviões e pela artilharia do exército legalista (leal ao presidente Artur Bernardes), tendo sido atingidos vários pontos da cidade, em especial os bairros da Mooca, Brás e Perdizes, como mostram as fotos. 

Em nossa cidade, registraram-se vários episódios ligados à Revolução, especialmente por estar sediado aqui o então 2º GAM – 2º Grupo de Artilharia da Montanha, atual 12º GAC. 

Joaquim Távora, que participara em 1922 do levante do Forte de Copacabana, contra o mesmo Artur Bernardes, desertou do Exército e passou a preparar a revolução, tendo inclusive estado em nossa cidade, contatando militares do 2º GAM, que já no dia 5 de julho aderiu à revolta.

O elo com os revoltosos de S. Paulo era o  tenente intendente do 2º GAM, Joaquim Nunes de Carvalho; inquérito posterior à revolta afirmava que o mesmo "vivia em constantes viagens, a pretexto de desempenhar as funcções do seu cargo de intendente, mas, ao depois, se soube que elle fazia ligação entre a sua unidade e os demais nucleos preparadores da rebellião".

Assim que o GAM se revoltou, comandado pelo tenente coronel Olyntho Mesquita de Vasconcellos, foi dividido em duas partes, uma que ficou na cidade, protegendo-a dos legalistas, e outra que seguiu para São Paulo. O então 1º Tenente Newton Brayner Nunes da Silva, que comandava a parte que ficou em Jundiaí, convocou reservistas e simpatizantes a se apresentarem. Em seguida, organizou um contingente de 30 homens que seguiu para Campinas, cidade também revoltada, para protegê-la de forças legalistas mineiras.  

Militares de Jundiaí e Joaquim Távora levantaram o então 4º Regimento de Artilharia Montada,  de Itu, hoje  2º Grupo de Artilharia de Campanha Leve (2º GAC L), que aderiu à revolução no dia 8 de julho. 

Cedo os revoltosos perceberam que não conseguiriam manter S. Paulo por muito tempo, tendo decidido retirar-se para Jundiaí, o que acabou não acontecendo. Famílias mais abastadas, no entanto, saíram da capital e vieram refugiar-se aqui. Mesmo jundiaienses acabaram deixando a cidade: a família de meus avós, que residia no bairro das Pitangueiras retirou-se para o então remoto bairro do Castanho. 

Militarmente mais fracos que os legalistas, os rebeldes retiraram-se para Bauru na madrugada de 28 de julho. Com o fim do conflito na cidade, contaram-se as vítimas: entre 500 e 700 mortos e cerca de 5 mil feridos. A situação era dramática; a edição de 1º de agosto de 1924 do Jornal do Comércio trazia uma nota: "A Diretoria de Higiene Municipal pede, por nosso intermédio, às pessoas que souberem onde se encontram cadáveres não sepultados ou sepultados fora dos cemitérios, avisar, à mesma Diretoria, na Prefeitura Municipal".

Em Bauru,  Isidoro Dias Lopes ao ser informado de que o exército legalista se concentrava na cidade de Três Lagoas, no atual Mato Grosso do Sul, atacou aquela cidade, onde foi derrotado: um em cada três dos soldados revoltosas morreu, foi ferido gravemente ou capturado. 

Os sobreviventes juntaram-se a revoltosos vindos do sul, formando a Coluna Prestes, que até 1927 vagou pelo Brasil combatendo o governo. Muitos preferiram o exílio, como o comandante do 2º GAM, tenente coronel Olyntho Mesquita de Vasconcellos, que depois juntou-se à Coluna Prestes, com o posto de general.

Em 1930, quando Getúlio Vargas tomou o poder, os envolvidos na Revolução de 1924 foram anistiados, tendo muitos deles voltado ao Exército e à Força Pública. O Tenente Brayner chegou ao generalato, tendo como coronel comandado o 2º GO 155, hoje 12º GAC; em foto da época, ele aparece ao lado do arquiteto Vasco Antonio Venchiarutti, que foi prefeito de nossa cidade.



quarta-feira, 3 de outubro de 2018

A CONSTRUÇÃO DA FONTE LUMINOSA

O "Estado de S. Paulo", em sua edição de 9 de abril de 1941, falava da construção da fonte luminosa na praça Pedro de Toledo, que seria inaugurada no dia 18 de maio seguinte.

A nota trazia detalhes técnicos da fonte, dizendo que 14 ejetores lançariam a água a 10 metros de altura, iluminada por 16 projetores; seu diâmetro era de 10 metros.  

A construção da fonte e a reforma da praça custaram cerca de 40 contos de réis à Prefeitura. Para se ter uma ideia acerca do montante desse investimento, o primeiro prêmio da loteria federal na época era de 300 contos; com os 40 contos era possível comprar cerca de 20 toneladas do melhor café em sacas, pela cotação daquele dia.

A fonte foi demolida nos anos 1960. Mais tarde foi instalado no local um monumento horrendo, as Caravelas, um monstrengo de ferro sem nenhum significado para nossa cidade. 


A engenheira Luci Merhy Martins Braga é co-autora de um artigo que menciona um chafariz que existiu  na Praça Marechal Floriano Peixoto, onde existe o coreto - fica na parte de trás da Catedral. Esse chafariz foi construído nos anos 1920 e retirado no início dos anos 1940; era de cimento, construído pela empresa paulistana Paciulle & Ratto. A foto ilustra o artigo.