segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

1818: JUNDIAÍ JÁ MOSTRAVA SUA VOCAÇÃO COMO CENTRO LOGÍSTICO E INDUSTRIAL


Von Spyx
Von Martius
Carl Friedrich Philipp von Martius (1794 - 1868) era um médico alemão com interesse muito grande pela botânica. Seu amigo, Johann Baptist von Spix (1781 - 1826), também alemão, era um zoólogo.

Em 1817, Spix e Martius foram convidados para realizar uma expedição ao Brasil, com o objetivo de descrever nossa fauna e flora. Faziam parte da Missão Artística Austro-Alemã, um grupo de artistas e cientistas que acompanharam a princesa Leopoldina, que vinha para o Brasil para se casar com o futuro imperador Dom Pedro I. 

A viagem pelo país, que terminou em 1820, foi descrita em um livro detalhado e interessante, o Reise in Brasilien (Viagem pelo Brasil) - foram milhares de quilômetros pelo país, visitando São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Piauí, Maranhão, Pará e Amazonas.

Em 1818, Martius e Spix passaram por nossa cidade, que descreveram como "um pequeno povoado em uma colina baixa, que só é importante por sua situação favorável para o comércio do sertão. Todas as tropas que partem da Capitania de São Paulo para Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Cuiabá, são aqui organizadas. Os habitantes possuem grandes manadas de mulas, que fazem essas viagens algumas vezes por ano. O fabrico de cangalhas, selas, ferraduras e tudo que é necessário para equipamento das tropas, assim como o incessante vaivém das caravanas, dão ao lugar feição de atividade e riqueza, e, com razão, dá-lhe o título de porto seco. Daqui partem as estradas trilhadas para as Províncias acima citadas”.

Nossa cidade já mostrava sua vocação como centro logístico e industrial.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

BRASIL ENTRA NA GUERRA: 22 DE AGOSTO DE 1942

No dia 22 de agosto de 1942, após navios mercantes brasileiros serem torpedeados e afundados por submarinos alemães e italianos, o Brasil declarou guerra à Alemanha nazista e à Itália fascista. 
O Anibal Benévolo, um dos navios afundados (99 mortos)

O jornal Folha da Manhã, em sua edição de 27 daquele mês, noticiou como a população de nossa cidade recebeu a notícia da declaração de guerra: os homens passaram a usar gravatas pretas como sinal de luto pelos mortos nos navios afundados, os funcionários da Prefeitura passaram a cantar o Hino Nacional após o encerramento do expediente aos sábados; no dia 22 houve uma concentração popular na Praça Pedro de Toledo, ouvindo as últimas notícias divulgadas por um serviço de alto-falantes - poucos tinham aparelhos de rádio em casa. 

O envio das tropas brasileiras para o campo de batalha começou apenas em julho de 1944, quase dois anos após a declaração de guerra brasileira. 

Foram enviados 25 mil homens, de um total inicialmente previsto de 100 mil. Mesmo com problemas na preparação e no envio, já na Itália, treinada e equipada pelos  americanos, a Força Expedicionária Brasileira (FEB) cumpriu as principais missões que recebeu.

Morreram quase 500 militares e cerca de 1.000 membros da marinha mercante e passageiros dos navios afundados, .

Patrulha brasileira em ação na Itália


domingo, 22 de janeiro de 2017

O HOTEL DO COMMERCIO, A PAULISTA E A YTUANA

O jornal Correio Paulistano publicou em sua edição de 3 de março de 1872, um anúncio do "Hotel do Commercio", em nossa cidade

Era um anúncio voltado aos viajantes que chegavam de S. Paulo por via ferroviária; o hotel era "a primeira casa subindo para a cidade", provavelmente na atual Rua Barão do Rio Branco, que até hoje é conhecida entre nós como a Rua da Estação.

Até há não muito tempo atrás, havia próximo ao local um prédio que serviu como hotel e também como sede do antigo GEVA - Ginásio Estadual de Vila Arens - não sabemos se se trata do mesmo prédio - a foto abaixo, do acervo do Prof. Maurício Ferreira, mostra foto do prédio logo após a instalação do GEVA (cerca de 1963). 



A locomotiva nº 1 da Paulista
O Hotel dizia ter carros para levar e trazer hospedes à Estação, animais para alugar e "trollis" para Campinas e Itu - não havia ferrovia para essas cidades; esse negócio deve ter sofrido um grande impacto logo depois do anúncio: em agosto de 1872 foi inaugurada a ligação ferroviária Jundiaí-Campinas. 

Logo depois, em novembro do mesmo ano, outro golpe no negócio: foi inaugurada a ferrovia de Jundiaí a Indaiatuba (à época chamada Pimenta); em 1873, a linha chegou a Itu - ao sair de nossa Estação, percorria o que hoje é a Av. União dos Ferroviários. A foto abaixo mostra a primeira locomotiva da Ituana (ou Ytuana, como se escrevia na época), hoje em exibição na cidade de Indaiatuba. 

Consta que a locomotiva estava exposta na cidade de Saint Louis, nos Estados Unidos durante as comemorações do centenário de independência daquele país em 1876, onde foi comprada pelo imperador D. Pedro II. Na exposição do centenário, a locomotiva tinha o nome de “America”. Logo que chegou ao Brasil foi batizada de “D. Pedro II”, segundo o pesquisador Sérgio Mártire - ao que parece, D. Pedro II teria doado a locomotiva à Cia Ytuana, que 1892 foi absorvida pela Sorocabana.


quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

A CASA DA FAMÍLIA MESSINA E A CICA

A  casa recém construída
A Companhia Industrial de Conservas Alimentícias CICA, uma das maiores empresas do ramo alimentício do Brasil (se não a maior) começou a operar em 1941; foi produto da associação do banqueiro Alberto Bonfiglioli com as famílias Messina, Guerrazzi e Guzzo, entre outras. Em meados da década de 1990, foi vendida e em 1998 a fábrica de Jundiaí foi fechada. 

Anexa à fábrica, foi construída uma casa que serviu de residência ao Comendador Antonino Messina, que ali residiu até sua morte, em meados dos anos 1960. Essa casa é descrita em um artigo bastante interessante, de autoria do arquiteto Eduardo Carlos Pereira e publicado na revista Cidade, Patrimônio & História, edição de maio de 2016. A casa   está na relação de bens do Inventário de Proteção do Patrimônio Artístico e Cultural   e possui grau 1 de proteção, destinado aos bens  imóveis que possuem reconhecida importância histórica ou elevada qualidade arquitetônica.


O primeiro projeto da casa, construída por Giacomo Venchiarutti, em 1942, era bem menor do que a casa atual. No pavimento térreo havia uma cozinha, uma copa, um dormitório para empregadas e uma sala de jantar. No pavimento superior existiam quatro quartos, um banheiro e um terraço. A reforma posterior aumentou consideravelmente a área da residência. No pavimento térreo foram aumentados a cozinha, a copa e o terraço frontal, além de serem construídos uma grande sala, um quarto, banheiros, um hall e um grande terraço posterior. A área do pavimento passou para 310 m². No pavimento superior, um dos quartos foi aumentado, outro ganhou um terraço e os outros dois deram lugar à uma grande sala; foi também criado um corredor que dá acesso à dois quartos e um banheiro mais recentes. O pavimento passou a ter 200 m².
A localização da casa dentro do complexo CICA (anos 1960)

O brasão
A casa tem algumas características bastante marcantes, como o painel de azulejos pintados à mão por Carlos Mancini em 1957, localizado na varanda posterior. Além desse painel, há outros elementos que podem ser considerados de  valor histórico, como o brasão da CICA na fachada, outro painel também pintado por Carlos Mancini, com a imagem do Santo Antônio e o portão social, trabalho de serralheria de alta qualidade. 

Elevação atual da casa (acervo do arquiteto Eduardo C. Pereira)

A casa faz parte do imóvel hoje ocupado pela Telhanorte; espera-se que a ganância e a especulação imobiliária não impeçam sua manutenção e utilização como um dos ícones de nossa cidade. 

Um pouco mais sobre a CICA pode ser visto aqui. 

sábado, 14 de janeiro de 2017

ESCRAVIDÃO, UMA TRAGÉDIA TAMBÉM EM JUNDIAI

A abolição tardia da escravidão é uma mancha que paira sobre o Brasil; fomos o último país das Américas a abolir essa prática hedionda. Além da privação da liberdade propriamente dita, a escravidão trazia toda a sorte de maus tratos e privações. Famílias eram separadas, qualquer possibilidade de educação ou evolução praticamente inexistiam - enfim, era uma situação absolutamente inaceitável.

Nossa cidade não ficou livre desse mal: o Prof Mauricio Ferreira tem em seu acervo este recorte da "Gazeta de Campinas" de novembro de 1874, dando conta da fuga do escravo Zeferino: desdentado, levando consigo um calça e uma camisa apenas, provavelmente movido pelo desespero deixara a Fazenda do Monteserrate (na região de Itupeva) em busca de algum alívio para seus tormentos. 

O jornal Correio Paulistano publicava em 1872 anúncio tratando da fuga de quatro escravos em nossa cidade: Christiano, Innocencio, Nicácio e Ildefonso, para cuja captura também era oferecida recompensa. Entre 1856 e 1862, um conto de réis (um milhão de réis) podia comprar  um escravo ou um quilo de ouro - a preços de hoje, seriam cerca de 120 mil reais -   o  anúncio oferecia uma recompensa de cem mil réis pela sua captura, ou cerca de 10% do preço do escravo. 

A escravidão não acabou, apesar de ilegal. Hoje  os traficantes de pessoas escondem suas vítimas e formam uma população de escravos oculta. Estimativas apontam que hoje em dia existam entre 12 e 27 milhões de pessoas que vivem como escravos pelo mundo todo. Na melhor das hipóteses, eles trabalham 16 horas por dia em troca de dinheiro que só é suficiente para se alimentarem mal e pagarem por uma cama para dormir. Na maioria dos casos são pessoas de outros países que se tornam reféns de exploradores que lhes dão condições de migrarem e os colocam para trabalhar afim de pagarem uma dívida que nunca acaba - aqui no Brasil são frequentes as notícias sobre bolivianos nessa situação, frequentemente trabalhando em confecções em São Paulo. Também em áreas rurais situações como essa persistem.

E o que podemos fazer para lutar contra esse mal? Observar e denunciar situações desse tipo.  E quanto a Zeferino, Christiano, Innocencio, Nicácio e Ildefonso - que fim teriam levado? 




terça-feira, 3 de janeiro de 2017

ANOS 1930: OS CIRCOS BREMEN E ARAUJO ESTIVERAM EM NOSSA CIDADE



Em abril de 1935 o circo Bremen estava em nossa cidade, mais precisamente no Largo de Santa Cruz, onde hoje está localizado o Terminal Central. Era normal que circos e parques de diversões se instalassem nesse local, que nos primórdios de nossa cidade era onde ficavam as tropas de animais que vinham nos trazer mercadorias.

A imprensa informava que o circo tinha "um bom elenco de artistas acrobatas" e "uma óptima collecção zoológica, da qual se destaca o interessante chimpanzé Boby" - atualmente, não é permitido que circos tenham animais. 


Em 1937, era o Circo Araújo que se instalava no velho Largo, também com uma "collecção zoológica".