sábado, 28 de maio de 2016

1935: GUIOMAR NOVAES, A MAIOR PIANISTA BRASILEIRA, VISITA JUNDIAÍ

Guiomar em 1939: "a mais famosa pianista do mundo"
Guiomar Novaes (1894-1979) foi, sem dúvida, a maior pianista brasileira. Nascida em São João da Boa Vista era a 17ª de 19 irmãos. 
Desde os seis anos de idade passou ater aulas de piano, mostrando extraordinária habilidade. Foi vizinha de Monteiro Lobato, a quem inspirou para criar a personagem Narizinho, a "menina do nariz arrebitado" do Sítio do Picapau Amarelo.
Mais tarde teve aulas com Luigi Chiaffarelli, um importante professor italiano, considerado o responsável pelo seu desenvolvimento artístico. Chiaffarelli também foi professor de inúmeros pianistas que alcançaram fama no país e no exterior- hoje dá nome a uma rua nos Jardins, em S. Paulo.. 
Em 1902, com oito anos, Guiomar Novaes apresentou-se publicamente pela primeira vez. Em 1909, com o auxílio do Governo do Estado de São Paulo, foi estudar em Paris.
Ao desembarcar na França, Guiomar foi convidada para visitar uma compatriota que desejava ouvi-la: era a Princesa Isabel, também pianista, que vivia exilada próximo a Versalhes.   
Na capital francesa, Guiomar inscreveu-se para prestar provas no Conservatório de Paris; havia 331 candidatos para doze vagas - Guiomar foi a primeira colocada; na comissão julgadora, estavam músicos como Claude Debussy. Graduou-se dois anos depois, também em primeiro lugar.
Fez muito sucesso em todo mundo; sempre ligada à cultura, participou da Semana de Arte Moderna; casou-se com Octavio Pinto, com quem teve dois filhos.  
Tocou para personagens importantes da cena internacional, como o Presidente Roosevelt e a Rainha Elizabeth.
Mas também veio a Jundiai: em 20 de abril
Folha da Manhã, 24/4/1935
de 1935, um sábado de Aleluia, apresentou-se no Politeama, num concerto em benefício da "Casa da Creança". Ao final do concerto, recebeu uma "corbeille" de uma das crianças atendidas pela Casa; na entrada do Politeama foi colocada uma placa de bronze marcando a visita (será que ainda existe?).
O Prefeito Gandra
Guiomar foi saudada pelo prefeito, o Dr. Antenor Soares Gandra, que ofereceu a ela e aos seus familiares um "lunch" em sua residência.
Pernoitou em Jundiaí e no dia seguinte visitou a instituição e outros pontos da cidade. Surpreende o fato de que há mais de 80 anos nossa cidade recebesse uma artista desse porte. 






    domingo, 22 de maio de 2016

    A ESTRADA DE FERRO BRAGANTINA


    Campo Limpo Paulista pertencia a Jundiaí. De Campo Limpo partia a Estrada de Ferro Bragantina (EFB), que chegava até a cidade de Bragança Paulista. 

    Em fins da década de 1860, fazendeiros de Bragança lançaram a ideia de construir uma estrada de ferro que, ligando-se aos trilhos da Santos a Jundiaí, permitisse enviar rapidamente sua safra de café ao porto de Santos, substituindo as tropas de burros que eram utilizadas nesse transporte - eram semanas de viagem de Bragança até o porto de Santos.. 

    Os trabalhos de implantação da ferrovia foram iniciados em fins  de 1878  e se arrastaram por quase 6 anos, incluído aí um tempo de quase dois anos em que as obras ficaram completamente paralisadas, pois a companhia que estava construindo a ferrovia quase faliu. 

    Foram superados obstáculos imensos à época, pois não havia maquinário disponível e tudo tinha de ser feito com pás e picaretas. Finalmente, em 4 de maio de 1884 inaugurou-se o primeiro trecho, de Campo Limpo até Atibaia, e em 15 de Agosto do mesmo ano até Bragança, numa extensão de 52 km. 

    Uma das Kitson originais partindo de Atibaia nos anos 1960
    Inicialmente a ferrovia utilizou 5 locomotivas a vapor Kitson de fabricação inglesa, que   foram batizadas em homenagem a autoridades da época: Conde de Tres Rios, Dr. Luiz Leme, Dr. Lins de Vasconcellos e Barão de Jundiahy; a quinta chamou-se Bragança.  A ferrovia ainda tinha 8 carros de passageiros e 55 vagões de carga de diversos tipos, inclusive para transporte de animais. 

    Mais tarde, a EFB adquiriu duas automotrizes diesel de procedência inglesa, da marca Walker, que entraram em serviço em 01/09/1938. 


    A "Bandeirante" em Piracaia
    Elas passaram a ser denominadas, após a passagem da EFB para o governo estadual, “O Bandeirante” e “IV Centenário”. Essas máquinas faziam o transporte de passageiros na região de Atibaia e Bragança.

    A Bragantina mudou de dono várias vezes - em 1895 Luís de Oliveira Lins de Vasconcelos lidera um grupo que adquire as ações da EFB, tornando-se dono da companhia, que em 1903 foi vendida à São Paulo Railway, que era a dona da linha Santos a Jundiaí.

    Em 1946 a SPR passou para o controle do governo federal, e a Bragantina para o estadual. Apesar de alguns investimentos do governo, a  EFB continuava famosa pelos seus equipamentos obsoletos, velocidade baixa e pouca confiabilidade em termos de horários – após ser estatizada, tornou-se rapidamente um cabide de empregos.

    A situação da empresa começara a agravar-se  com a crise de 1929, que levou à extinção da cultura do café na região, deixando de haver necessidade do trem para seu transporte.
    O último trem saindo de Campo Limpo

    Nos anos 1960, o asfaltamento das rodovias que ligavam as cidades da região, a construção da rodovia Fernão Dias, que corria praticamente paralela aos seus trilhos e o fato de transportar apenas cerca de 70 toneladas de carga ao dia selaram sua sorte: em 21-06-1967, após anos de prejuízos (em 1966 mais de 1,2 milhões de cruzeiros novos), às 16:50, o último trem  partiu de Campo Limpo com destino a Bragança Paulista, tracionado pela locomotiva diesel  nº 8, que pertencera à Cia. Mogiana. 

    Foi nesse dia que se ouviu o último apito e a EFB morreu...

    terça-feira, 17 de maio de 2016

    1951: A POLÍCIA RODOVIÁRIA RECEBIA HARLEYS

    A Polícia Rodoviária, desde 1962 parte da Polícia Militar, foi criada em 1948  com o nome de Grupo Especial de Polícia Rodoviária, com um efetivo de 60 homens, quase todos antigos membros da Força Expedicionária Brasileira que lutara na Itália.

    Apesar de seu primeiro comandante ter sido o 1º Tenente José de Pina Figueiredo, da então Força Pública (hoje Polícia Militar), a PR era subordinada ao Departamento de Estradas de Rodagem (DER).

    Inicialmente atuava na recém inaugurada Via Anchieta (demorou 8 anos para ser construída), à época a mais moderna rodovia de nosso estado; logo a seguir, passou a cuidar também da Via Anhanguera e depois de outras estradas de nosso estado.

    Jundiaí sempre teve uma ligação muito forte com a Polícia Rodoviária – hoje sediamos um de seus batalhões e aqui funcionou uma escola para formação de patrulheiros. Em nossa região, foram filmados nos anos 1960 alguns episódios da série Vigilante Rodoviário.

    Por tudo isso, vale a pena lembrar uma notícia publicada em 29 de junho de 1951 pela Folha da Manhã, dando conta da entrega à PR de 15 motocicletas Harley Davidson, importadas através da Mesbla, revendedora de produtos daquela marca.

    Havia necessidade de mais motos, mas para importa-las era necessário autorização do governo federal, o que era muito difícil, em função da falta de moeda forte para compra-las – já vivíamos em crise...


    O quartel da PR em 1956 - esquina das ruas João Ferrara e Pirapora (Acervo Maurício Ferreira/Sebo Jundiaí)

    quarta-feira, 11 de maio de 2016

    UMA ESCOLA QUE ORGULHAVA JUNDIAÍ




    Houve aqui uma escola que orgulhava os jundiaienses do passado, a “Escola de Aprendizes Mecânicos na Companhia Paulista de Estradas de Ferro de Jundiahy”, mais tarde conhecida como “SENAI da Paulista”. 
    Roberto Mange
    Um dos maiores incentivadores à instalação de escolas como essa foi Roberto Mange, nome pelo qual era conhecido o suíço Robert Auguste Edmond Mange (1885-1955). Mange era formado em engenharia  pela Escola Politécnica de Zurique (1910) e chegou ao Brasil em 1913,  a convite do engenheiro Antonio Francisco de Paula Souza, diretor da Escola Politécnica de São Paulo, para lecionar Engenharia Mecânica naquela escola.

    Foi superintendente da Escola Profissional de Mecânica do Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo,  fundou o Instituto de Organização Racional do Trabalho (IDORT) e o  SENAI, tendo sido seu primeiro diretor, cargo que exerceu  até falecer.
    Criada em 1934 (apesar de outras fontes afirmarem que já em 1901 havia em nossa cidade uma escola de aprendizes ferroviários), a maioria de seus cursos tinha a duração de quatro anos e eram compostos por disciplinas práticas e teóricas. Inicialmente, a escola ofereceu um curso   de “Escrituração Ferroviária”, com uma etapa de formação com a duração de três anos ao qual se poderia seguir um período de aperfeiçoamento de mais dois e um curso para mecânicos, compreendendo os ofícios de mecânico-ajustador, serralheiro e montador. Posteriormente, incluiu outras especializações como torneiros, caldeireiros, fundidores, modeladores-mecânicos e eletrotécnicos.
    Os requisitos para preencher as vagas eram: ser maior de 14 anos e prestar exame de admissão em Língua Portuguesa, Geografia e História do Brasil, Aritmética e Geometria Prática - passando também por exames psicotécnicos, onde eram avaliadas aptidões naturais para a carreira.
    As oficinas - à direita, ao 
    fundo, o Politeama e a 
    igreja de Vila Arens
    O currículo apresentava principalmente matérias técnicas mas também matérias mais gerais, como por exemplo, “Noções de História da Civilização no Brasil”, Geografia Política e Comercial do Brasil”, “Educação Cívica e Moral do Aprendiz no seu Ofício Perante a Sociedade” e “Noções de Higiene do Ofício”. Era dada maior ênfase aos trabalhos práticos, sendo primordial a relação entre o ensino teórico e as atividades nas oficinas, que deveriam sempre permanecer conjugados; os alunos eram remunerados.
    A Oficina de Aprendizagem em 1941
    Nos dois primeiros anos, os alunos
    frequentavam concomitantemente as aulas teóricas e a Oficina de Aprendizagem e, nos dois últimos anos, frequentavam a Oficina Geral. Suas atividades deveriam obedecer sempre ao princípio dos trabalhos metódicos e progressivos.  Chegamos a conhecer profissionais formados pela escola que ocuparam bons cargos em empresas como a IBM.
    O jornal “Folha da Manhã”, em sua edição de 28 de novembro de 1936, noticiava a solenidade de formatura da primeira turma da escola, paraninfada pelo deputado Antenor Soares Gandra; foi oradora da turma a aluna Noemia de Felippe. Após a entrega dos diplomas, houve um baile, realizado na sede do Grêmio CP. Ainda em termos de formaturas, o jornal “O Estado de S. Paulo” noticiou que em 4 e 5 de janeiro de 1959 mais uma turma se graduara, tendo como orador o aluno Hercules Sagrillo e como paraninfo Armando Negro, instrutor chefe da escola.
    É interessante comparar o que ofereciam essas escolas há oito décadas em relação ao que temos hoje no âmbito municipal e estadual, e até mesmo em algumas escolas privadas, com muitos alunos terminando o Ensino Médio (colegial) analfabetos funcionais.

    quinta-feira, 5 de maio de 2016

    MAIO É MÊS DE ROMARIAS: FÉ, E ÀS VEZES, TRISTEZA

    É muito tradicional em nossa cidade a Romaria Diocesana Masculina, que acontece nos mês de maio, desde 1914, tendo começado com um grupo de 13 amigos que foi até Pirapora  fazer suas orações. Desde então, passou a ser realizada todos os anos e se tornou uma tradição passada de pai para filho. 

    Atualmente, reúne cerca de 1.500 romeiros, que fazem a peregrinação a pé, cavalo, charrete e bicicleta. É a mais antiga do Estado de São Paulo.

    Mas ela também gera tristezas: em 1936, a romaria saiu de Jundiaí em 9 de maio, sábado, e na volta no domingo, um dos romeiros, Marcos Justino de Oliveira caiu do cavalo, vindo a falecer, conforme noticiou a Folha da Manhã. Segundo o mesmo jornal, mais de quatrocentos cavaleiros participaram da romaria.

    Vale a pena lembrar também a Romaria Pedestre de Vila Arens, que teve início em 1935, com 6 participantes e da qual hoje participam cerca de 600 pessoas; ambas as romarias ocorrem no mês de maio.