terça-feira, 28 de junho de 2016

QUILOMBOS EM JUNDIAÍ

Em dissertação de mestrado apresentada à UFRJ, Deborah da Costa Fontenelle discute o tema "quilombos", e recorrendo ao jornal Correio de Campinas, narra fatos ocorridos em Itupeva, à época parte de Jundiaí. Na medida do possível, conservamos as expressões da época constantes do texto:

"Há um quilombo do escravos fugidos na fazenda denominada S. Simão, no districto de Jundiahy, distante umas 2 ½ léguas da estação de Itupeva, da qual é administrador o Sr. Francisco Bueno. 

O ataque a um quilombo
Aos 29 do passado (junho de 1885) o Sr. Bueno ajuntou uma força de 15 paisanos e assaltou o  quilombo, resultando d’este assalto a morte de um dos paisanos e a retirada dos mais, que deixaram o cadáver de seu companheiro nas mãos dos aquilombados. 

O Sr. Bueno communicou o occorrido ao delegado de policia de Jundiahy, por telegramma e pediu uma força para desalojar os aquilombados. O delegado respondeu-lhe immediatamente que não tinha a força precisa disponível e que não remettesse o cadáver para Jundiahy com as testemunhas do facto, e telegraphou ao chefe de policia, pedindo um destacamento para servir no caso. 

Este veiu no dia 30 do passado em numero de 15 praças, commandadas por um tenente, e desembarcou em Jundiahy. No mesmo dia o delegado fez marchar o destacamento para a scena do distúrbio. 

Chegado o destacamento ao sitio, o commandante fez o reconhecimento da situação das cousas, e communicou ao delegado que os escravos estavam entricheirados na matta e que não podia subjugal-os sem empregar os meios mais enérgicos. 

O delegado respondeu que fizesse uso das armas, mas o commandante, vendo que havia grande desproporção entre o numero das praças e dos fugidos, e que estes tinham uma immensa vantagem do terreno, julgou mais prudente não atacar o quilombo sem um reforço de praças, e voltou para Jundiahy, com o destacamento, hoje (2 de julho) de tarde. 

Diz o delegado que elle espera a chegada de um reforço sufficiente, de S. Paulo, amanhã, e fará seguir a força, assim augmentada, de novo á scena do distúrbio. 

A gente da visinhança do quilombo assevera que há 43 dos fugidos, e que o cadáver do infeliz paizano, que morreu no conflicto de 29 do passado, está lá a pequena distancia do quilombo, espetado n’um mastro para a admoestação dos temerários. "

Capitão do Mato - gravura de Rugendas
Em Itupeva há um bairro chamado Quilombo, provavelmente uma referência a esses fatos, a respeito dos quais infelizmente não conseguimos mais informações.

Também não conseguimos mais informações acerca de um episódio ainda mais tétrico que teria acontecido em nossa cidade no ano de 1754, quando os governantes da cidade teriam contratado um capitão do mato (caçador de escravos fugidos)  para eliminar um quilombo, matando os líderes e espetando suas cabeças em estacas fincados junto à estrada, para que servissem de exemplo a outros possíveis fugitivos.


quinta-feira, 23 de junho de 2016

REMANDO CONTRA O PROGRESSO: JUNDIAÍ NÃO PRECISAVA DE EMISSORA DE RÁDIO...

Muita gente é contra novas tecnologias, por razões diversas: medo de perder poder/status, de não se adaptar a novas situações, sensação de conforto com a situação atual e outras, dentre as quais aparecem com frequência razões de ordem econômico/financeira. 

Um caso típico ligado a esse motivo é relatado pelo jornal Folha da Manhã em sua edição de 21/08/1935, posicionando-se radicalmente contra a instalação de uma emissora de rádio em nossa cidade.

As justificativas apresentadas eram estapafúrdias, como interferências nas transmissões das  emissoras de São Paulo (eram sete), do Rio de Janeiro e até mesmo da Argentina!

O autor do texto diz ainda que a programação, com artistas locais jamais poderia competir com a das grandes emissoras - convenientemente, esqueceu-se dos discos...

O artigo diz ainda que os empresários da cidade não anunciariam aqui, preferindo faze-lo nas emissoras da capital, em função do maior alcance - "esquece-se" também do custos muito maiores envolvidos.

Termina o texto  dizendo que situação similar viviam os jornais locais, que não podiam competir com os de São Paulo, e que nossa cidade deveria se conformar com as adversidades geradas pelo fato de estarmos próximos a São Paulo.

Isso é que era "imprensa marrom"! Para os mais jovens, "imprensa marrom" é aquela que não segue princípios éticos - no caso, a publicação de texto evidentemente gerado em função de interesses comerciais. 

Mas parece que funcionou, ao menos durante algum tempo: a primeira emissora instalada em Jundiaí foi a Difusora, que entrou no ar apenas em junho de 1946


domingo, 19 de junho de 2016

O VISCONDE DE TAUNAY DANÇOU EM NOSSA CIDADE



Alfredo Maria Adriano d'Escragnolle Taunay (1843-1899), o Visconde de Taunay, destacou-se como intelectual, político e militar; dá nome a uma rua de nossa cidade, no bairro de Vila Arens. 

Autor de obras marcantes, como Inocência e A Retirada da Laguna - foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, ocupando a cadeira n.° 13, que tem como patrono Francisco Otaviano. 

Na política, foi deputado por Goiás e Santa Catarina, senador por essa província e presidente (como eram chamados os governadores) do Paraná, sendo um dos responsáveis pela criação do o Passeio Público, famoso parque de Curitiba.

Como militar, atingiu o posto de major e participou da Guerra do Paraguai, registrando em livro um trágico e heroico episódio de nossa historia, a retirada da Laguna. O livro, escrito originalmente em francês, foi publicado em 1871 e teve enorme repercussão.

Em suas obras, Taunay relata alguns episódios relativos à guerra, acontecidos em nossa cidade.

Taunay fazia parte de uma expedição comandada pelo coronel Manoel Pedro Drago, que em 1865 deixou o Rio de Janeiro rumo a Santos, pelo navio "Santa Maria". De trem, os seis oficiais que compunham a Comissão de Engenheiros da coluna, foram até Cubatão, onde tomaram uma diligência para chegar a São Paulo.

De S. Paulo, partiram para Jundiaí, na "frigidíssima" madrugada de 11 de abril daquele ano. Taunay montava a mula "Dona Branca", que havia comprado por 240 mil réis. 

Ao chegarem a Jundiaí, hospedaram-se na estalagem do Barão da Ponte (de que já falamos em outro post) - nas palavras de Taunay, o tal Barão era um português gaiato, que dizia "os outros barões são feitos pelo Imperador - eu, pela unânime aclamação dos povos"! Era o Barão de estatura mediana, corpulento, de face redonda e rosada. 

A estalagem ficava na região da ponte que cruzava o Rio Jundiaí (provavelmente na área da atual Vila Lacerda), logo após cruzar-se o rio. 

Era uma grande e frequentada hospedaria, um edifício em forma de quartel onde o viajante encontrava boas acomodações, camas limpas e comida regular. Seu dono era conhecido pela sua bonomia e gentileza. 

Taunay segue dizendo que o Barão tinha duas filhas, que cuidavam da estalagem: a Nha Cula (Clotilde), “feia e magra” e a Nha Bé (Isabel), “gorduchona, alourada e mais apetitosa”. Taunay segue narrando: "na hospedaria havia um velho piano, muito desafinado. Pois o comandante me fez tocá-lo e assim improvisei alguns trechos de óperas e das primeiras obras de Verdi". 

Logo depois chegou à estalagem a "música de Jundiaí", uma "péssima charanga" onde dominavam o trombone, o prato e o bumbo e armou-se um baile, onde os oficiais "apertaram deveras as duas beldades" - eram as únicas mulheres presentes... O Barão dizia "divirtam-se, mas respeitem as meninas"...

Já estavam no local outros militares, entre os quais "um major velho, de peruca", comandante do 21º Batalhão, que pediu para "recitar um improviso". Foi para o centro da sala, com um lenço na mão e disse ao mestre da charanga: "quando eu der sinal com o lenço, toquem o Hino Nacional" - e recitou:

"Se aqui estamos reunidos,

Em solene ocasião,

É p'ra vingarmos valentes,

Pedro e a Constituição."


Deu sinal com o lenço e a charanga atacou o Hino; ao final dos primeiros compassos, o Major pediu silêncio e recitou mais algumas quadrinhas, todas péssimas. Segundo Taunay, a cena era irresistivelmente cômica. 

O então Tenente Taunay era muito jovem à época. Com seus 22 anos, músico e compositor, deve ter se divertido muito na festa...


Acampamento durante a marcha

A expedição marchou mais de dois mil quilômetros, até chegar a Miranda, no Mato Grosso do Sul, em setembro de 1866. Comandada então pelo coronel Carlos de Morais Camisão, invadiu o território paraguaio, chegando à Fazenda Laguna, que era de propriedade de Solano Lopez, em abril de 1867.

Acossados pelos paraguaios, pelas doenças e pela fome, os brasileiros se retiram 
Reduzida à metade dos 3.000 homens originais, muito distante das linhas brasileiras, sem víveres, remédios, armas e equipamentos adequados e muito afetada por doenças como cólera, tifo, e beribéri, a coluna do foi forçada a retirar-se fustigada pelos constantes ataques da cavalaria paraguaia, que utilizava táticas de guerrilha, infligindo perdas severas aos brasileiros.

Conseguiram chegar às linhas brasileiras em Coxim, em junho de 1868, apenas 700 homens, alquebrados pela doença e pela fome - o Coronel Camisão morreu pelo caminho, vítima do cólera.

Teve um papel muito importante no episódio José Francisco Lopes, o Guia Lopes, um fazendeiro da região que atuou como guia das tropas - sem o seu conhecimento da região, as baixas teriam sido ainda maiores. Também morreu de cólera quase ao final da retirada.

Finda a retirada, a guerra seguiu para Taunay. A foto abaixo mostra-o em companhia de funcionários e oficiais brasileiros, já ao final da guerra: aparecem o Conde D'Eu, com a mão na cintura e à sua esquerda, o futuro Visconde do Rio Branco (pai do Barão) e que chegou a chefiar o gabinete do Imperador (era como um primeiro ministro) entre 1871 e 1875; Taunay está entre eles, na segunda fila.









quarta-feira, 15 de junho de 2016

MOLECAGEM: QUASE TRAGÉDIA

Uma brincadeira de estudantes quase gerou uma tragédia no dia 28 de abril de 1954. 

Um mecânico estacionou um ônibus na Rua Jorge Zolner, próximo à sua residência, no centro da cidade, para ir almoçar.  

Um grupo de estudantes entrou no ônibus e provavelmente soltou o freio de mão: o ônibus começou a se movimentar, desceu a Jorge Zolner e cruzou a Rua Leonardo Cavalcanti, indo em direção à Rangel Pestana. 

No caminho, atropelou e feriu dois menores que estavam na calçada e invadiu a cozinha de uma casa, onde estavam a proprietária, que se feriu levemente, e quatro crianças, que escaparam ilesas.

Uma "quase tragédia" que foi noticiada pelo jornal Folha da Noite - note-se no recorte do jornal que o número da casa atingida é dado como 769, o que pode indicar um erro do jornal ou o fato de ter sido alterada a numeração; na atualidade, esse número está próximo à Rua Eduardo Tomanik, no sentido contrário ao que desceu o ônibus. 

quinta-feira, 2 de junho de 2016

UM CASO DE AMOR EM 1928

A Folha da Manhã de 12 de setembro de 1928 contava a história de um barbeiro, residente em Santos, que morara em nossa cidade onde teve uma namorada. 

O "fígaro" como o jornal se referia ao barbeiro, mudara-se para Santos e um dia voltou a Jundiaí para "matar as saudades" - segundo o jornal, "foi só, mas voltou acompanhado", trazendo a namorada que fugiu de casa.

Apesar de ser uma ocorrência comum, como era praxe na época o assunto foi levado à Polícia, que deteve os dois.

Mas parece que o caso terminou bem, pois voltaram juntos para nossa cidade...