segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

TIÃO GENEROSO: UM PERSONAGEM DO SAMBA JUNDIAIENSE

Quem nos conta essa história é o velho amigo Andrade Jorge, escritor, poeta e sambista.

Segundo Jorge, todos conheciam Sebastião 
Generoso em Jundiaí: nas rodas de samba era o Tião Generoso, um negro magro, alto, fala doce e envolvente e riso cativante, que aprendeu tocar todos os instrumentos de percussão e acabou se tornando Apitador de Escola de Samba, como eram chamados os atuais Mestres de Bateria. Jogava bola também, nunca foi craque, mas jogava.

Nos anos 1960, a tradicional escola de samba Além Viaduto, do bairro Ponte São João, convidou Tião para comandar sua bateria nos desfiles de Carnaval. Naquele ano o Jorge também tocava na bateria da Além Viaduto, tendo ao seu lado Nego Veio, outra lenda do samba jundiaiense, mais tarde também Mestre de Bateria.

Convite aceito, meses de ensaio e o Apitador firme, sempre presente. No dia do desfile, a Escola se concentrou em frente ao clube São João, aguardando os ônibus que a levariam ao centro da cidade, onde aconteceria o desfile.

A saída dos ônibus estava marcada para as 17 horas. Já eram 16h30 horas e cadê o Tião Generoso? Começou bater um desespero nos diretores e nos batuqueiros. O relógio chegou às 17 horas e nada de Tião, até que apareceu alguém e disse que havia visto o negão embaixo do viaduto da Ponte São João, finamente trajado, todo de branco: calça, camisa, paletó e sapatos.

Os diretores rumaram para o local imediatamente - o viaduto fica perto do Clube. A espera foi longa, mas de repente surge Tião Generoso ao lado dos diretores, todo sorridente, e dirigindo-se aos batuqueiros foi longo disparando: “vamos embora gente, temos um carnaval pra ganhar, vocês estão esperando o que?”

Esse era o Tião Generoso, que naquele ano levou a Além Viaduto a vencer o carnaval, desbancando a famosa escola de samba Caio, uma das pioneiras de Jundiaí.

Anos mais tarde os amigos mais próximos ficaram sabendo o motivo do sumiço do Tião: haviam prometido a ele um dinheirinho para comandar a bateria, e até o dia do desfile a diretoria não havia cumprido o prometido. Espertamente, Tião postou-se embaixo do viaduto, esperando que alguém cumprisse o trato - parece que cumpriram, e a escola ficou campeã.

Tião já nos deixou há alguns anos. A foto que ilustra este texto é do acervo do Prof. Maurício Ferreira.