quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

PAOLETTI - TAMBÉM PERDEU-SE NA POEIRA DO TEMPO

Companhia Industrial e Mercantil Paoletti S.A. foi fundada em 1955, operando inicialmente em Várzea Paulista, à época um bairro de Jundiaí. Tem suas origens em uma pequena empresa importadora e  envasadora de azeitonas chamada Audax (ou Audaz), que foi adquirida por Carmelo Paoletti e que acabou se transformando em uma indústria de produtos alimentícios de grande porte. 

Diz-se que a região de Várzea tinha dois problemas sérios: o primeiro a carência de água, insumo essencial para a fabricação de conservas, sendo o segundo a presença na região da Elekeiroz, fabricante de produtos químicos, cujas chaminés lançavam no ar gases corrosivos que oxidavam as latas utilizadas para os produtos Paoletti. Para evitar esse problema, Paoletti construiu uma nova fábrica em   Cajamar, local sugerido por Arnaldo Rojek, antigo funcionário da CICA que viria a ser um dos diretores da Paoletti e mais tarde, fundador da Metalgráfica Rojek, também localizada em Cajamar. 

A empresa cresceu muito, tendo inclusive aberto outras fábricas, a maior delas em Araçatuba. Tinha forte presença na mídia, como mostra o comercial de TV que pode ser visto clicando-se ao pé deste post. 

Para tentar superar a situação, a empresa acabou recorrendo a empréstimos do BNDES, que acabaram não sendo pagos e gerando conflitos que levaram esse banco em 1979 a passar seu controle para o Grupo Simeira, que entre outras empresas controlava as Lojas Arapuã e o Banco Fenícia - esses novos controladores também não conseguiram reerguer a empresa, que acabou fechando as portas mais tarde - a marca Etti acabou ficando em poder da Bunge, uma grande empresa na área de produtos alimentícios. 

Paoletti continuou atuando no ramo, tendo adquirido em 1985 a Coniexpress, uma pequena empresa de Jundiaí que no início de suas atividades fabricava casquinhas para sorvete - localizava-se na Vila Jundianópolis.

Essa empresa, quando adquirida por Paoletti, detinha a marca Quero e acabou tendo uma linha de produtos similar à que a Paoletti tinha. Transferiu-se para a cidade de Nerópolis (Goiás) e em 2011 foi vendida para o grupo americano Heinz, que, curiosamente foi vendido no início de 2013 para uma sociedade formada pela  Berkshire Hathaway, holding do investidor americano Warren Buffet e a firma brasileira de investimento em participações 3G Capital,   por US$ 23 bilhões; foi uma das maiores aquisições do setor alimentício de todos os tempos.

Paoletti morreu em 2012, aos 81 anos.









domingo, 25 de dezembro de 2016

O CORINTHIANS JUNDIAHYENSE E A UNIÃO FEMININA CORINTHIANA

Em outubro de 1935 a imprensa noticiava o primeiro aniversário da União Feminina Corinthiana, formada por mulheres que apoiavam o clube da Vila Arens.
O aniversário seria comemorado por um "sarau dansante", um baile, que aconteceria no "Theatro República", foi depois o Cine República e abriga hoje uma agência bancária. No Baile, tocaria "um escolhido jazz-band da Capital",

É muito interessante ver, como há mais de 80 anos, existia uma entidade como essa; na atualidade, infelizmente, é praticamente impossível pensar em algo parecido, ficando claro o quanto caiu o nível do ambiente futebolístico... 

Vale lembrar que o Corinthians Jundiahyense Foot-Ball Club foi fundado em 1913 e foi o   Campeão do Interior Paulista de 1920. Naquela época, os campeões do interior e da capital, disputavam o título estadual. O campeão da capital foi o Palestra, que armou uma maracutaia para ficar com o título - não houve a disputa. 


O Corinthians Jundiaiense tinha um estádio para 8 mil espectadores, que ficava na Vila Progresso, onde hoje fica a Dubar. Sua sede era um grande sobrado que depois ficou com o Colégio Divino Salvador - a foto abaixo, do acervo do Prof. Maurício Fernandes, mostra o prédio da sede, provavelmente já pertencendo ao Divino. 

Com o surgimento de outros clubes e afastamento daqueles que bancavam a maior parte das despesas, o clube foi se apequenando, até desaparecer definitivamente no início da década de 1960.





domingo, 18 de dezembro de 2016

UM MALUCO FAZ UM POUSO FORÇADO EM JUNDIAÍ

Em outubro de 1937 a imprensa noticiava o pouso forçado de um avião em nossa cidade. O piloto voava do interior para São Paulo, quando, forçado pela ausência de visibilidade, pousou na região da Vila Progresso. 

O avião pertencia à escola de aviação de Ribeirão Preto e passou a noite guardado por soldados da polícia; o pilôto, Juvenal Paixão passou a noite no Jundiahy Hotel e decolou no dia seguinte. 

Paixão era um entusiasta da aviação, tendo tido, entre outros encargos,  o de primeiro instrutor dos aeroclubes de São José do Rio Preto e Taubaté.

Também deveria ser um tanto quanto maluco, como muitos dos aviadores da época: durante a Revolução de 1932, a bordo de um Falcon (foto abaixo) pilotado pelo americano Horton Hoover, decolou do Campo de Marte, em São Paulo, indo a  Mato Grosso, com o objetivo de atacar o monitor Pernambuco, fundeado no Rio Paraguai, próximo a Porto Esperança. Seu observador era Paixão, e consta que em cinco ataques, o avião causou sérios danos ao navio (foto abaixo). 

Hoover foi instrutor dos aviadores da Força Pública e da Aviação Naval, tendo nos anos 1950 sido nomeado cônsul dos Estados Unidos em Santos. Faleceu em São Paulo em julho de 1958.


  

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

ADQUIRINDO O TERRENO PARA O NOVO QUARTEL

Em 31 de março de 1942, o comandante da então II Divisão de Infantaria oficiou ao Prefeito de Jundiaí pedindo que a Prefeitura colaborasse com 200 mil contos de réis para a aquisição da antiga Chácara Rami, área onde viria a se instalar o atual 12º GAC - essa colaboração teria sido oferecida anteriormente pela Prefeitura. Para se ter uma ideia desse valor, o primeiro prêmio da Loteria Paulista à época era de 250 mil contos.

Dizia o ofício que o Exército pretendia instalar na área um Regimento de Artilharia de Dorso, unidade maior que o então Grupo de Artilharia de Dorso que estava sediado em nossa cidade.

No ofício, dizia o comandante que o dinheiro cedido pela Prefeitura retornaria ao município a um ritmo de mil contos ao mês, em função da presença de maior número de militares e vendas e serviços prestados à nova unidade. 

A aquisição foi concretizada, não sabemos se com ou sem a cooperação da Prefeitura, mas em 1943, o 2º GADo já se exercitava e promovia provas hípicas na área - a unidade utilizava equinos e muares intensivamente. Mas o regimento não se instalou - mudanças tecnológicas acabaram levando a unidade a se transformar, a partir de 1946, no 2º GO 155. 


Algumas das edificações existentes na Chácara Rami foram preservadas: a principal, a casa sede, é ocupada pelo Hotel de Trânsito do GAC; no imóvel, residia a família Cardia, proprietária da Cerâmica Rami, depois Cidamar e hoje Roca.  As fotos mostram imagens da casa à época e na atualidade. 

O general Maurício José Cardoso, que assinou o ofício dirigido à Prefeitura, teve uma carreira militar brilhante: maranhense, ingressou no Exército em 1895,  aos quinze anos, como soldado, servindo no então 5º Batalhão de Infantaria. 

Ali, atingiu a graduação de 2º sargento, tendo ingressado na antiga Escola Militar da Praia Vermelha em 1902; em 1906, foi declarado aspirante-a-oficial, já da Escola de Guerra de Porto Alegre. Promovido a segundo-tenente em janeiro do ano seguinte, tornou-se primeiro-tenente em junho de 1912. Faleceu em 1968.

Era da arma de Engenharia. Seu mais alto cargo no Exército foi o de Chefe do Estado Maior do Exército; era General de Divisão, à época, o mais alto posto. 

Foi também o idealizador do movimento para construção do monumento ao Duque de Caxias, em São Paulo, inaugurado em 1960 e de autoria de Victor Brecheret. Na foto abaixo, o general Cardoso com Getúlio Vargas, em 1938.


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sábado, 10 de dezembro de 2016

O "ASSUCAR SANTA MARIA" NOS LEVA A MOACYR LOBO DA COSTA

Pesquisando para escrever um pouco sobre a história de nossa cidade, descobrimos que a Folha da Manhã de 1º de julho de 1932 noticiou a inauguração da Refinadora Santa Maria, que processaria açúcar. A empresa, de propriedade de Luiz Bocchino, localizava-se à Av. Dr. Cavalcanti "em prédio amplo e bem arejado".

Como era praxe nessas ocasiões, várias pessoas discursaram, mas a nota nos remete a um personagem pouco conhecido em nossa cidade: Moacyr Lobo da Costa, então com 19 anos, que falando em nome de Bocchino, "agradeceu as palavras dos oradores que lhe antecederam".

Moacyr era irmão de Waldomiro Lobo da Costa, que fora prefeito de nossa cidade e de quem já falamos neste blog. Era o mais novo de nove irmãos. 

Na casa da família Lobo da Costa respirava-se cultura:  era frequentada pelo artista plástico Rebolo Gonzales, pelo poeta Menotti Del Pichia e pelas pianistas Guiomar Novaes e Magda Tagliaferro, todos amigos  de Múcio, um de seus irmãos, que faleceu prematuramente.  Na casa, existiam três pianos, um de armário, um de cauda e um de meia cauda, sendo que uma irmã de Moacyr, Virgínia, tornou-se professora de música.

Aluno do célebre "Gymnásio Culto à Sciencia" em Campinas,  Moacyr tinha que se deslocar diariamente, de trem, de Jundiaí até aquela cidade. Formou-se em 1932, tendo participado da Revolução Constitucionalista naquele ano.

A seguir, estudou Direito, graduando-se em 1937 no Largo de S. Francisco, onde foi professor por muito tempo. Em 1941, casou-se com Isa, também natural de Jundiaí, e integrante da  família Canguçu.

Seu pai, Morivaldo era funcionário da Cia. Paulista, e Moacyr seguiu seus passos, atuando na área jurídica da empresa de 1941 até aposentar-se em 1972. 

Auxiliou também a implantação da Faculdade de Direito da PUC de Campinas, além de ter escrito muito sobre a área processual. 

A seu respeito, escreveu em 2006 seu antigo aluno Acácio Vaz de Lima Filho: "Meu velho mestre foi organizado até para morrer, o que pode parecer um paradoxo. Dispôs dos seus bens — que não eram muitos — repartindo-os entre os seus filhos. Deixou registrada a sua vontade de que o seu corpo fosse cremado, descendo ao detalhe de escolher a música que seria executada no crematório. Foi velado onde viveu: — na sua Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, envergando a beca — companheira e veterana de muitos concursos — e cercado pela família, bem como por uma legião de antigos alunos, da Academia de São Paulo e da PUC, de Campinas".

É muito bom quando escrevendo sobre um assunto tão prosaico, como a inauguração de uma pequena empresa, somos levados a conhecer um personagem tão ilustre como Moacyr Lobo da Costa - será que Jundiaí não lhe deve homenagem? 

E para voltar ao assunto inicial: a Folha termina sua matéria dizendo que "a sahida foi oferecida aos convidados uma amostra do excellente assucar Santa Maria".


domingo, 4 de dezembro de 2016

EM 1929, A POLÍCIA JÁ ERA CULPADA...



Muita gente, inclusive da imprensa, tende a chamar a Polícia de "truculenta" (e de coisas piores), não importando as circunstâncias em que ocorrem fatos em que estejam atuando membros da corporação. Noticiava a "Folha da Manhã" de 6 de fevereiro de 1929, que um "caboclo", José Augusto de Araújo Cintra, agredira violentamente a uma pessoa no interior de um bar situado na rua Adolpho Gordo (hoje Zacarias de Goes). O local ficava na "zona boêmia" de nossa cidade, e a vítima ficara gravemente ferida. O agressor era um "ficha suja": já havia assassinado uma pessoa em Socorro. 

Acionados, dois soldados da Força Pública (hoje PM), fardados de forma semelhante aos da foto acima, buscaram deter Cintra, que estava em sua casa, nos altos do Anhangabaú, à época um local remoto.

Quando chegaram, os soldados foram atacados pelo agressor a golpes de enxada. Reagindo, os policiais reagiram a tiros (postura absolutamente normal para quem é atacado), acabando por atingir a companheira de Cintra, que o auxiliava, e que veio a falecer. O agressor, ficou gravemente ferido.

Quanto aos soldados, acabaram presos, aguardando o desfecho do inquérito instalado para apurar os fatos...




quarta-feira, 30 de novembro de 2016

MILAGREI ESCAPOSAMENTE (EM SÃO PAULO E EM BOTUJURU...)


A São Paulo Railway Company (SPR), depois Estrada de Ferro Santos a Jundiaí, começou a operar em 1867.

Para marcar a ocasião, a direção da ferrovia programou uma grande festa: um trem, puxado por duas locomotivas (para evitar problemas...) sairia da estação do Brás (em São Paulo) e, conduzindo as autoridades da época iria até a Estação da Luz, onde seria servido um banquete. 

Mas a primeira viagem tornou-se o primeiro desastre: ao cruzar a ponte sobre o rio Tamanduatei, a segunda locomotiva saiu dos trilhos e caiu à margem do rio, matando o maquinista e ferindo membros do grupo, entre eles   José Maria de Alvear Brotero (1798-1873), o Conselheiro Brotero.   Natural de Lisboa, formado em direito em Coimbra e depois exilado político no Brasil, Brotero ajudou a implantar a Faculdade de Direito do Largo de S. Francisco, da qual foi professor e secretário durante quarenta anos.

Ao ser socorrido, aturdido pelo ocorrido, Brotero teria dito: "milagrei escaposamente", ao  explicar que escapara milagrosamente.

Mas outra pessoa poderia ter dito a mesma frase, em caso ocorrido na mesma ferrovia: em 24 de junho de 1940, Hugo Romancini, estava a bordo de um trem que vinha de São Paulo para Jundiaí.

Quando procurava chegar ao carro restaurante, o trem entrou no túnel de Botujuru (local onde aconteceram diversos fatos estranhos) e, na escuridão do túnel, Romancini que estava na plataforma entre o carro de passageiros e o carro restaurante, abriu a porta errada e acabou caindo do trem... 

Quando o trem chegou à estação de Várzea Paulista, o alarme foi dado por outro passageiro, o trem que vinha em seguida foi avisado e recolheu o passageiro, que havia conseguido rastejar para fora do túnel - talvez com a ajuda do fantasma que assombra o local...

Com ferimentos leves, Romancini foi trazido para nossa cidade e internado no Hospital São Vicente - realmente, como diria Brotero, milagrou escaposamente...














domingo, 27 de novembro de 2016

O DESFALQUE NO SINDICATO

Infelizmente trabalhadores são muito frequentemente usados como massa de manobra por aqueles que deveriam representa-los, os dirigentes sindicais. Ás vezes, a situação é ainda pior, os representantes simplesmente roubam os representados.

A Folha de S. Paulo de 1º de junho de 1982 noticiava um desses casos, o desfalque dado pelo presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Empresas de Alimentação de nossa cidade. 

O sindicalista, conhecido como Lazinho, era funcionário da CICA e à época, vereador. De maneira cínica, admitiu que retirara do caixa do sindicato cerca de 5 milhões de cruzeiros (algo como 500 mil reais de hoje), a título de "empréstimo pessoal"...

Uma parte desse dinheiro foi devolvida, e o sindicalista colocou à disposição de seus representados dois terrenos cuja venda poderia servir para pagar o "empréstimo". 

Alguns juristas diziam que o Ministério Público deveria denuncia-lo, mesmo que o dinheiro fosse devolvido, pois o ato, do ponto de vista jurídico, era equiparado pela legislação da época a peculato, desvio de dinheiro público.

Infelizmente, ignoramos como o caso terminou - poderia ter havido uma Lava Jato local, pois Lazinho certamente não era o único...


sexta-feira, 25 de novembro de 2016

UM FILME "PROIBIDO" - SUCESSO NOS ANOS 1920


Em 29 de julho de 1929 aconteceria algo inusitado em Jundiaí:  o Cine Ideal, situado à Rua Rangel Pestana, demolido e hoje com o terreno incorporado à sede do Grêmio CP, exibiria um filme só para senhoras.
O República, hoje uma agência bancária em Vila Arens, e o Politeama exibiriam o mesmo filme, mas em sessões para homens. O filme era "quente", a ponto de a imprensa recomendar a presença da Polícia e do Juizado de Menores para "evitar abusos de alguns moços durante a exibição"...

O filme era “Vício e Belleza”, produzido em 1926, com argumento de Menotti del Picchia, enfocando os problemas das drogas e doenças sexualmente transmissíveis, objeto de muita preocupação na época. Esse filme deu início a uma série de filmes “ousados”, que obtiveram sucesso comercial. Enfocava a “degeneração” urbana, a vida boêmia dos cabarés, com seus esplendores e “vícios elegantes” e a dissolução das tradições, temas explorados pelos folhetins, cinema e rádio, ao narrar os novos costumes da modernidade. Dentre esses "vícios elegantes", estavam o uso de drogas como cocaína e morfina, além do mundo das “róseas illusões da juventude, seguidas das suas funestas conseqüências” - alusão velada à liberdade sexual.

O filme prometia trazer aos jovens “ensinamentos de grande valia, que só a dura experiência da vida poderia ensinar”. Foi lançado com vasta publicidade, ressaltando-se a plasticidade das “scenas deslumbrantes... bailados e quadros... plásticos posados por bailarinas parisienses”. Entretanto, sua publicidade ao dar destaque para as “Bellas mulheres! Amor! Illusões!...” , deixava claro que o que importava era o sucesso comercial da produção, que aconteceu: a Folha da Manhã de 31 de julho relata o tumulto ocorrido no lançamento do filme em São Paulo, quando foi necessária a presença da Polícia para que o cinema não fosse invadido - a novidade, um filme "adulto", atraiu uma multidão de homens. É interessante constatar como a mudança dos costumes faz com que hoje temas como esses sejam abordados de maneira inteiramente diferente até mesmo pelas novelas exibidas no início da noite. Isso evidentemente tem aspectos ruins mas também alguns bons - só o tempo dirá se essa mudança foi predominantemente boa ou má. Cada um tem sua opinião...


A foto abaixo mostra uma das cenas do filme, que não sabemos se foi preservado








quarta-feira, 23 de novembro de 2016

1938: VIGARISTAS JÁ ATACAVAM EM JUNDIAÍ




Sempre tivemos vigaristas em ação. Em nossa cidade, isso não foi ou é diferente. 

Segundo a Folha da Manha de 22 de junho de 1938 e o Correio Paulistano de 22 de julho do mesmo ano, o agente consular italiano em nossa cidade, Estevam Campanaro, recebeu um telegrama avisando que no dia seguinte receberia a visita de um alto funcionário do Ministério do Exterior da Itália.

Nessa época, sob Mussolini, a Itália e seu governo gozavam de muito prestígio entre os italianos e seus descendentes que viviam em nossa cidade  - basta lembrar a recepção que teve o cônsul geral da Itália quando visitou nossa cidade. 

No dia seguinte, apresentando-se como "Dr. Ernesto Bonfanti", chegou o tal funcionário a Jundiaí. Campanaro havia reunido para recebe-lo alguns expoentes da colônia italiana em nossa cidade: Hermes Traldi, Guido Pelliciari e Alfredo de Vito. 

Bonfanti declarou estar encarregado pelo governo italiano de coletar fundos para a construção de uma certa "Casa dos Italianos" em Roma; prontamente foi atendido: Traldi entregou-lhe um conto e quatrocentos mil réis e de Vito um conto, tudo em dinheiro vivo. Pelliciari, deu um cheque pré-datado de um conto e quinhentos mil réis.  Para se ter uma ideia dos valores envolvidos, em 1938 o automóvel Ford mais barato vendido no Brasil custava cerca de quinze contos.

Mais tarde, Campanaro acabou descobrindo que Bonfanti era um vigarista, e conseguiu a sustação do cheque; José Pacheco de Freitas foi detido ao tentar desconta-lo e informou ter recebido o cheque de Menotti Marcaccini, proprietário do "Recreio Balneário Hotel" em São Vicente, como pagamento por serviços prestados - ao ouvir Marcaccini, descobriu-se que este era o próprio Bonfanti...

Vale lembrar um pouco uma das vítimas do vigarista: Hermes Traldi, que chegou ao Brasil em 1910, aos 18 anos. Veio para trabalhar com um tio, em São Paulo, fazendo negócios em cidades do interior. Gostou de Jundiaí, onde percebeu que havia espaço para a a cultura e industrialização da uva. Mudando-se para nossa cidade em 1924, acabou comprando terras na região, onde plantou uvas e  fundou a Vinícola Hermes Traldi - boa parte de suas terras ainda estão em mãos de sua família.

Guido Pelliciari, uma quase vítima (seu cheque acabou sendo sustado), era industrial na área de móveis; foi proprietário de uma grande fábrica de cadeiras situada no bairro de Vila Arens, que ocupava todo um quarteirão entre as ruas Brasil e Visconde de Taunay; nessa área localizam-se hoje edifícios de apartamentos que levam seu nome e o de sua esposa.   






sexta-feira, 18 de novembro de 2016

INCÊNDIO NA IGREJA DE VILA ARENS

O ano de 1927 marcou o início da construção da atual Igreja Matriz de Vila Arens, tendo a inauguração ocorrido em 1934. A nova igreja substituiu a antiga, que ficava na Praça Quintino Bocaiuva, o Largo da Feira - a foto ao lado, do acervo do Prof Maurício Ferreira, mostra a antiga igreja em 1920.

No dia 2 de maio de 1957, um incêndio causou grandes estragos na torre da nova igreja - aluno da Escola Paroquial de Vila Arens, lembro-me dos grossos rolos de fumaça que saiam da torre. O então menino Maurílio Ricetto, à época morador das Pitangueiras, lembra-se do vigário, Padre Alberto Betke, chorando ao seu lado.


O fogo começou por volta de 9h45. Uma grande quantidade de voluntários acorreu ao local, esvaziando a igreja, pois temia-se que o fogo atingisse o resto do prédio. Empresas da cidade (Cica e Argos) que tinham brigadas de bombeiros acorreram em apoio aos bombeiros da cidade, mas foi necessária a ajuda de três guarnições de S. Paulo, que melhor equipadas (inclusive com escada Magirus), auxiliaram no combate ao fogo. Um desses voluntários ficou levemente ferido, tendo sido atendido pelo SAMDU (Serviço de Assistência Médica Domiciliar de Urgência), órgão que ficava no lado direito na descida da Rua Major Sucupira, após o quartel.

Os padres Paulo de Sá Gurgel, diretor do então Ginásio Divino Salvador e Ditmar Graeter, diretor do Seminário que funcionava no prédio do Divino, disseram acreditar que o fogo iniciou-se com um curto circuito na área do órgão da igreja, tendo as chamas subido pela torre e atingido o relógio, que ficou totalmente destruído, assim como a estrutura de madeira que sustentava os três sinos, que caíram sobre a lage de um dos andares da torre. O sinos, que pesavam 1.500, 800 e 300 quilos ficaram danificados.

Felizmente os danos foram apenas de ordem material, e algum tempo depois foram totalmente reparados. 

     


terça-feira, 15 de novembro de 2016

1941: INAUGURADA A CIDADE VICENTINA


A Cidade Vicentina era conhecida como "Vila dos Pobres".

A edição do jornal Folha da Manhã, de 5 de setembro de 1941 noticiava a inauguração das seis primeiras casas da instituição.

Descobre-se algumas coisas interessantes ao ler-se a matéria: dizia que a área era localizada nas "colinas do Anhangabaú", na "estrada do Retiro, próximo a cidade" - hoje o Anhangabau é um bairro central, e a Rua do Retiro uma rua que vem se tornando uma via de comércio sofisticado - o tempo passa...

Abaixo, fotos da instituição na época da inauguração e na atualidade. Para finalizar, cabe sempre admirar e cooperar com mais essa obra dos Vicentinos, que abriga cerca de 90 pessoas.




sábado, 12 de novembro de 2016

GUERRA PSICOLÓGICA NA REVOLUÇÃO DE 32

A Folha da Manhã de 17 de setembro de 1932 noticiava a prisão de "derrotistas e boateiros" em nossa cidade - dentre eles um famoso comerciante de ferragens do centro da cidade.

Provavelmente eram pessoas contrárias à Revolução ou que acreditavam que ela estava perdida, como de fato estava: em 2 de outubro, os revolucionários renderam-se. Nessas ocasiões, contas pessoais também acabam sendo acertadas, o que pode ter acontecido também aqui.

Soldados revolucionários


quarta-feira, 9 de novembro de 2016

UMA ÁGUIA EM JUNDIAÍ?

A Folha da Manhã, em 28 de outubro de 1935 relata um fato curioso acontecido em nossa cidade:   uma "águia" surgiu em na Fazenda Pamplona, no bairro do Horto Florestal. 

Um dos trabalhadores da fazenda tentou afugenta-la, sem sucesso; chamou então o administrador da fazenda, que armado de uma espingarda atirou e matou o grande pássaro (as preocupações com a defesa da fauna inexistiam à época)...

A ave era realmente grande: 2,40 metros de envergadura, cerca de um metro de altura e garras quase do tamanho do punho de um adulto - é preciso reconhecer que esse animal poderia fazer grandes estragos entre os animais da fazenda.


Não é possível afirmar-se com certeza, mas pela foto parece tratar-se de um gavião real, também conhecido como gavião de penacho ou harpia, que é tida como a maior ave predadora do planeta. A harpia está presente no Brasil principalmente em áreas densamente florestadas, na Amazônia e no Pantanal. Como teria chegado até aqui, é um mistério.

Uma harpia
Quando se pesquisa sobre a história da cidade, muitos pontos acabam ficando sem resposta: onde seria exatamente a Fazenda Pamplona?

A ave foi empalhada pelo taxidermista Santo Vendramini, apesar de o jornal ter afirmado que Vendramini era "dermatologista" e havia "embalsamado" o animal...

Vendramini era alfaiate de profissão e caçador e taxidermista por hobby; no entanto, o hobby virou profissão, e Vendramini trabalhou para diversos museus e para o Parque da Água Branca, em São Paulo, caçando animais e preparando-os para exposição - ao que consta, preparou mais de mil animais. 

A águia, teria sido oferecida ao Museu do Ipiranga. Ainda nos lembramos, nos anos 1960, de alguns animais empalhados expostos no Gabinete de Leitura Ruy Barbosa - talvez fosem obra de Vendramini.

A foto abaixo, do acervo do Prof. Mauricio Ferreira, mostra Vendramini no Museu Histórico e Cultural de Jundiaí, nos anos 1960: 

segunda-feira, 31 de outubro de 2016

QUARTÉIS DA 2ª COMPANHIA DE COMUNICAÇÕES

A atual 2ª Companhia de Comunicações Leve de nosso Exército foi sediada em nossa cidade de 1950 a 1980, quando foi transferida para Campinas - à época em que esteve em Jundiaí, era denominada 2ª Companhia de Comunicações. 

A unidade era originalmente a  1º Companhia de Transmissões do 1º Batalhão de Transmissões, criado em 1935 no Rio de Janeiro; em 1946 foi destacada desse batalhão, redenominada 2ª Companhia de Transmissões e em 1947 transferida para
Itapetininga.

Naquela cidade, ocupou um antigo quartel que anteriormente sediara o 7º Batalhão de Caçadores da Força Pública (hoje Polícia Militar) e depois o 5º Batalhão de Caçadores do Exército. Esse edifício é  hoje ocupado pelo DER (Departamento de Estradas de Rodagem). 

Ao chegar a Jundiaí, ocupou o velho quartel do centro da cidade, que o então 2º GO 155 havia deixado para transferir-se para suas instalações na região da Vila Rami.  Ocupava parte do prédio o Quartel General da AD/2 (Artilharia Divisionária da então 2ª Divisão de Infantaria).

Em Campinas, a hoje 2ª Cia Com L ocupa modernas instalações localizadas no Jardim Chapadão, próximo a outras unidades militares.

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

MAIS UM CASO DE AMOR

Em sua edição de 1º de abril de 1932, a Folha da Manhã noticiava que Pedro Rodrigues, de 26 anos, raptara a menor (e orfã) Anna Fidencio da Silva. Preso, o raptor prontificou-se imediatamente a casar-sa com a moça, tendo a Polícia e a Justiça tomado as medidas iniciais para regularizar a situação do casal.

Tomara que tenham sido felizes....

terça-feira, 25 de outubro de 2016

O BAIRRO DO MOISÉS

O bairro do Moisés compreende a região situada ao redor do trevo da Avenida Jundiaí, uma área nobre, bem próxima ao centro de nossa cidade, com diversos prédios residenciais.

Mas em 1863 tudo era diferente: o jornal "Correio Paulistano", em sua edição de 19 de julho daquele ano, publicava anúncio de venda de uma "importante chácara" situada no bairro, chácara essa que pertencera a um "finado padre". O imóvel parecia ser bem grande: pasto, barro para telhas, dois ribeirões etc.

É interessante notar que o imóvel era chamado "prédio", palavra que hoje tem outro sentido. 

Seria muito interessante também descobrir onde se localizava exatamente  a chácara e qual sua história completa até os dias de hoje.

Também valeria a pena saber quem foi a pessoa que deu nome ao bairro e quem era o finado padre que fora proprietário do imóvel - ficam estes desafios para nossos historiadores.

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

UM ESCÂNDALO EM 1930

A imprensa  noticiava que na tardinha do dia 16 de janeiro de 1930, a "messalina" Carmen Gonçalves, residente na Rua Adolpho Gordo (hoje Zacarias de Góes) saiu à rua "em trajes de Eva".

Naquela rua, à época, situava-se a zona boêmia da cidade, o que frequentemente a tornava palco de fatos ora trágicos ora tragicômicos.

Detalhe de estátua de Messalina
exposta no Louvre
O jornal dizia que naqueles dias fazia um calor sufocante, o que em conjunto com o álcool, levou a mulher a sair nua à rua, "indignando a uns e agradando a outros", ainda segundo o jornal, que conclui dizendo que Carmen foi levada ao xadrez (vestida?) e "severamente admoestada" pelo delegado...

Para concluir, vale lembrar que Messalina  (Roma17 DC Roma, 48 DC) foi casada com o imperador romano Cláudio. Era prima dos também imperadores Nero e Calígula (bela família!); mulher   poderosa e influente, com a reputação de promíscua, teria conspirado contra o marido e foi executada quando o plano foi descoberto.