quarta-feira, 24 de outubro de 2018

A ELETRIFICAÇÃO DA COMPANHIA PAULISTA - UM MARCO EM NOSSA HISTÓRIA

Dois símbolos marcaram de forma indelével o nível de excelência da Paulista: seus  trens de luxo azuis e suas locomotivas elétricas, em especial a imponente V8, com suas linhas aerodinâmicas. 

Era um conjunto marcado pela rapidez, conforto e pontualidade. Nunca mais será possível viajar ao interior contando com a comodidade de carros-restaurante, dormitórios, poltronas giratórias individuais...

A Companhia Paulista foi a primeira grande ferrovia brasileira  que eletrificou suas linhas, ainda na década de 1920, num brilhante trabalho do  engenheiro Francisco de Monlevade,  que implantou um sistema que prestou bons serviços por mais de 75 anos - um recorde que demorará a ser quebrado, se é que um dia virá a ser. É oportuno lembrar que durante esse trabalho, teve morte trágica o engenheiro Leonardo Cavalcanti

Os estudos para a eletrificação da C.P. se iniciaram em 1916, quando o Brasil era um país periférico, agrário e sem praticamente nenhuma tradição técnica. A implantação de um sistema sofisticado como esse não incluía apenas a compra e instalação de equipamentos caros e sofisticados para a época, como também implicou no treinamento de maquinistas e empregados pela própria companhia. 

Não haviam escolas, faculdades e universidades que pudessem lidar com o tema no Brasil. E mesmo os técnicos da General Electric e da Westinghouse que aqui vieram acompanhar a implantação do novo sistema de tração, puderam aprender bastante com a experiência da Paulista com esta nova tecnologia.

Após a implantação extraordinariamente bem-sucedida do programa de eletrificação entre Jundiaí e Campinas, a partir de 1922, ele foi paulatinamente estendido ao longo das linhas de bitola larga da Paulista, alcançando Rincão, na linha de Barretos, em 1928. Trinta anos após sua implantação, em 1954, ele atingiu a sua extensão máxima, alcançando Cabrália Paulista, na linha de Bauru.

A foto ao lado mostra a primeira locomotiva elétrica da Paulista; fabricada pela Baldwin Locomotive Works (componentes mecânicos) e Westinghouse Electric Corporation (componentes elétricos), tinha  1627 hp e foi desativada provavelmente na década de 1970.

Infelizmente a grave crise econômica que se abateu sobre as ferrovias após a década de 1950 impediu o prolongamento da eletrificação além desses pontos. Ainda assim, o sucesso da eletrificação foi suficiente para mantê-la funcionando por várias décadas a fio. 

Em 1995, contudo, a administração da Ferrovia Paulista - FEPASA, empresa estatal que havia absorvido a Companhia Paulista em 1971, decidiu que a manutenção da eletrificação era técnica e economicamente inviável, dada a obsolescência do sistema.

Essa decisão administrativa acabou sendo revogada e a eletrificação voltou a funcionar em 1996, ainda que em caráter bastante precário. O golpe de misericórdia veio em 1999, com a privatização da FEPASA: a empresa que assumiu as linhas não se interessou em manter a tração elétrica. O sucateamento da rede elétrica se deu entre o fim de 1999 e início de 2000. 

Um final realmente inglório para uma conquista tecnológica espetacular conquistada num país ainda agrário e inculto.


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