Alfredo Maria Adriano d'Escragnolle Taunay (1843-1899), o Visconde de Taunay, destacou-se como intelectual, político e militar; dá nome a uma rua de nossa cidade, no bairro de Vila Arens.
Autor de obras marcantes, como Inocência e A Retirada da Laguna - foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, ocupando a cadeira n.° 13, que tem como patrono Francisco Otaviano.
Na política, foi deputado por Goiás e Santa Catarina, senador por essa província e presidente (como eram chamados os governadores) do Paraná, sendo um dos responsáveis pela criação do o Passeio Público, famoso parque de Curitiba.
Como militar, atingiu o posto de major e participou da Guerra do Paraguai, registrando em livro um trágico e heroico episódio de nossa historia, a retirada da Laguna. O livro, escrito originalmente em francês, foi publicado em 1871 e teve enorme repercussão.
Em suas obras, Taunay relata alguns episódios relativos à guerra, acontecidos em nossa cidade.
Taunay fazia parte de uma expedição comandada pelo coronel Manoel Pedro Drago, que em 1865 deixou o Rio de Janeiro rumo a Santos, pelo navio "Santa Maria". De trem, os seis oficiais que compunham a Comissão de Engenheiros da coluna, foram até Cubatão, onde tomaram uma diligência para chegar a São Paulo.
De S. Paulo, partiram para Jundiaí, na "frigidíssima" madrugada de 11 de abril daquele ano. Taunay montava a mula "Dona Branca", que havia comprado por 240 mil réis.
Ao chegarem a Jundiaí, hospedaram-se na estalagem do Barão da Ponte (de que já falamos em outro post) - nas palavras de Taunay, o tal Barão era um português gaiato, que dizia "os outros barões são feitos pelo Imperador - eu, pela unânime aclamação dos povos"! Era o Barão de estatura mediana, corpulento, de face redonda e rosada.
A estalagem ficava na região da ponte que cruzava o Rio Jundiaí (provavelmente na área da atual Vila Lacerda), logo após cruzar-se o rio.
Era uma grande e frequentada hospedaria, um edifício em forma de quartel onde o viajante encontrava boas acomodações, camas limpas e comida regular. Seu dono era conhecido pela sua bonomia e gentileza.
Taunay segue dizendo que o Barão tinha duas filhas, que cuidavam da estalagem: a Nha Cula (Clotilde), “feia e magra” e a Nha Bé (Isabel), “gorduchona, alourada e mais apetitosa”. Taunay segue narrando: "na hospedaria havia um velho piano, muito desafinado. Pois o comandante me fez tocá-lo e assim improvisei alguns trechos de óperas e das primeiras obras de Verdi".
Logo depois chegou à estalagem a "música de Jundiaí", uma "péssima charanga" onde dominavam o trombone, o prato e o bumbo e armou-se um baile, onde os oficiais "apertaram deveras as duas beldades" - eram as únicas mulheres presentes... O Barão dizia "divirtam-se, mas respeitem as meninas"...
Já estavam no local outros militares, entre os quais "um major velho, de peruca", comandante do 21º Batalhão, que pediu para "recitar um improviso". Foi para o centro da sala, com um lenço na mão e disse ao mestre da charanga: "quando eu der sinal com o lenço, toquem o Hino Nacional" - e recitou:
"Se aqui estamos reunidos,
Em solene ocasião,
É p'ra vingarmos valentes,
Pedro e a Constituição."
Deu sinal com o lenço e a charanga atacou o Hino; ao final dos primeiros compassos, o Major pediu silêncio e recitou mais algumas quadrinhas, todas péssimas. Segundo Taunay, a cena era irresistivelmente cômica.
O então Tenente Taunay era muito jovem à época. Com seus 22 anos, músico e compositor, deve ter se divertido muito na festa...
Acampamento durante a marcha |
A expedição marchou mais de dois mil quilômetros, até chegar a Miranda, no Mato Grosso do Sul, em setembro de 1866. Comandada então pelo coronel Carlos de Morais Camisão, invadiu o território paraguaio, chegando à Fazenda Laguna, que era de propriedade de Solano Lopez, em abril de 1867.
Acossados pelos paraguaios, pelas doenças e pela fome, os brasileiros se retiram |
Reduzida à metade dos 3.000 homens originais, muito distante das linhas brasileiras, sem víveres, remédios, armas e equipamentos adequados e muito afetada por doenças como cólera, tifo, e beribéri, a coluna do foi forçada a retirar-se fustigada pelos constantes ataques da cavalaria paraguaia, que utilizava táticas de guerrilha, infligindo perdas severas aos brasileiros.
Conseguiram chegar às linhas brasileiras em Coxim, em junho de 1868, apenas 700 homens, alquebrados pela doença e pela fome - o Coronel Camisão morreu pelo caminho, vítima do cólera.
Teve um papel muito importante no episódio José Francisco Lopes, o Guia Lopes, um fazendeiro da região que atuou como guia das tropas - sem o seu conhecimento da região, as baixas teriam sido ainda maiores. Também morreu de cólera quase ao final da retirada.
Finda a retirada, a guerra seguiu para Taunay. A foto abaixo mostra-o em companhia de funcionários e oficiais brasileiros, já ao final da guerra: aparecem o Conde D'Eu, com a mão na cintura e à sua esquerda, o futuro Visconde do Rio Branco (pai do Barão) e que chegou a chefiar o gabinete do Imperador (era como um primeiro ministro) entre 1871 e 1875; Taunay está entre eles, na segunda fila.
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