quarta-feira, 23 de novembro de 2016

1938: VIGARISTAS JÁ ATACAVAM EM JUNDIAÍ




Sempre tivemos vigaristas em ação. Em nossa cidade, isso não foi ou é diferente. 

Segundo a Folha da Manha de 22 de junho de 1938 e o Correio Paulistano de 22 de julho do mesmo ano, o agente consular italiano em nossa cidade, Estevam Campanaro, recebeu um telegrama avisando que no dia seguinte receberia a visita de um alto funcionário do Ministério do Exterior da Itália.

Nessa época, sob Mussolini, a Itália e seu governo gozavam de muito prestígio entre os italianos e seus descendentes que viviam em nossa cidade  - basta lembrar a recepção que teve o cônsul geral da Itália quando visitou nossa cidade. 

No dia seguinte, apresentando-se como "Dr. Ernesto Bonfanti", chegou o tal funcionário a Jundiaí. Campanaro havia reunido para recebe-lo alguns expoentes da colônia italiana em nossa cidade: Hermes Traldi, Guido Pelliciari e Alfredo de Vito. 

Bonfanti declarou estar encarregado pelo governo italiano de coletar fundos para a construção de uma certa "Casa dos Italianos" em Roma; prontamente foi atendido: Traldi entregou-lhe um conto e quatrocentos mil réis e de Vito um conto, tudo em dinheiro vivo. Pelliciari, deu um cheque pré-datado de um conto e quinhentos mil réis.  Para se ter uma ideia dos valores envolvidos, em 1938 o automóvel Ford mais barato vendido no Brasil custava cerca de quinze contos.

Mais tarde, Campanaro acabou descobrindo que Bonfanti era um vigarista, e conseguiu a sustação do cheque; José Pacheco de Freitas foi detido ao tentar desconta-lo e informou ter recebido o cheque de Menotti Marcaccini, proprietário do "Recreio Balneário Hotel" em São Vicente, como pagamento por serviços prestados - ao ouvir Marcaccini, descobriu-se que este era o próprio Bonfanti...

Vale lembrar um pouco uma das vítimas do vigarista: Hermes Traldi, que chegou ao Brasil em 1910, aos 18 anos. Veio para trabalhar com um tio, em São Paulo, fazendo negócios em cidades do interior. Gostou de Jundiaí, onde percebeu que havia espaço para a a cultura e industrialização da uva. Mudando-se para nossa cidade em 1924, acabou comprando terras na região, onde plantou uvas e  fundou a Vinícola Hermes Traldi - boa parte de suas terras ainda estão em mãos de sua família.

Guido Pelliciari, uma quase vítima (seu cheque acabou sendo sustado), era industrial na área de móveis; foi proprietário de uma grande fábrica de cadeiras situada no bairro de Vila Arens, que ocupava todo um quarteirão entre as ruas Brasil e Visconde de Taunay; nessa área localizam-se hoje edifícios de apartamentos que levam seu nome e o de sua esposa.   






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