quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

OS TRENS DA PAULISTA E O FILÉ ARCESP

Trabalhando em São Paulo desde 1971, ainda me recordo quando os trens ainda eram um excelente meio de transporte entre a capital e nossa cidade - já mencionamos isso em post anterior falando das "litorinas". 
O carro restaurante preparando-se para deixar a Estação da Luz 

Mas hoje o tema é outro: os trens de longo curso da Paulista, que ligavam São Paulo às barrancas do rio Paraná; mais especificamente os carros restaurante que faziam parte desses trens - não vivemos essa época, mas houve tempo em que para ir a esses carros, era necessário o uso de paletó e gravata e retirar uma senha. 


Eles eram ideais para se tomar uma cervejinha (sempre gelada) e jantar, não dando trabalho em casa - naquela época, jantava-se cedo em Jundiaí. Esse jantar ia desde simples porções de fritas e queijos, até o que havia de mais sofisticado a bordo: o Filé ARCESP.


A senha
O consagrado jornalista e escritor Ignácio de Loyola Brandão, natural de Araraquara, que muito viajou nos trens da Companhia Paulista, lembra o filé: "Era um bife muito grande, com tomate, cebola, e vinha acompanhado de arroz", descreve Loyola. "Até hoje lembro do aroma." 

O nome do prato homenageava passageiros muito frequentes: os viajantes, como eram chamados na época os representantes comerciais; o nome do prato, vem do nome da entidade que os reunia, a Associação dos Representantes Comerciais do Estado de São Paulo - ARCESP. 

A receita original se perdeu, mas das lembranças de viajantes é possível tentar reproduzi-la, aqui em versão para duas pessoas: 

Ingredientes: 
  • 2 bifes de 220 g de filé mignon 
  • 2 tomates para salada 
  • 1 cenoura 
  • 1 cebola 
  • 200 g de manteiga sem sal 
  • 50 g de ervilhas 
  • Sal e pimenta do reino moída na hora a gosto 

Preparo: 
  • Corte os tomates em cubos e retire todas as sementes. 
  • Fatie a cenoura na diagonal. 
  • Corte a cebola em rodelas. 
  • Tempere os filés com sal e pimenta do reino. 
  • Em uma frigideira, derreta metade da manteiga até borbulhar. Incline levemente a frigideira e coloque os filés na parte mais elevada. 
  • Deixe que o suco dos filés se incorpore à manteiga e mantenha-os no fogo até obter o ponto desejado. 
  • Em uma panela, cozinhe a cenoura até ficar ao dente. 
  • Separadamente, cozinhe as ervilhas. 
  • Quando os filés estiverem no ponto, retire-os da frigideira e reserve-os em lugar aquecido.
  • Coloque na frigideira a manteiga que sobrou, misturando-a ao suco dos filés. 
  • Junte a cebola e mexa bem. 
  • Disponha a cenoura, as ervilhas, os tomates e mantenha os vegetais ainda no fogo, até obterem uma boa coloração. Ajuste o sal, se necessário. 
  • Sirva os filés com os vegetais na manteiga,
    acompanhados por arroz branco. 

Preparado assim, assemelha-se ao original. Só não fica igual por falta de um ingrediente hoje impossível de encontrar: os trens da Companhia Paulista...


Um comentário:

  1. maravilha!! viajei muito nesses trens da cia paulista de estrada de ferro, quando trabalhava em são paulo, voltava com o trem que saia da estação da luz as 20 horas, trem expresso que ia para bauru, parava apenas em algumas cidades, jundiai, campinas, etc. Só podiam ir viajantes sentados nas poltronas, não se admitia venda de bilhetes acima da lotação. O vagão restaurante era um primor, eu nunca fazia esse trajeto são paulo/jundiaí em minha poltrona, ia direto para o restaurante, bater papo com amigos e é claro regado a uma boa cerveginha gelada. Bons tempos. Aliás escrevi um poema cujo título é "O trem da uma e nove da paulista", naquele tempó você podia acertar o relógio com os horários dos trens.

    ResponderExcluir