Luís D'Alincourt (também grafado "de Alencourt" ) nasceu em Oeiras, Portugal, em 1787 - Oeiras é uma cidade próxima a Lisboa. Em 1799 iniciou carreira militar; em 1809, transferido para o Brasil (a família real aqui chegara no ano anterior), graduou-se pela antiga Academia Militar do Rio de Janeiro.
Membro do Corpo de Engenheiros, viajou muito por nosso país, cumprindo missões de pesquisa que lhe foram atribuídas pelo Exército - permaneceu no Exército Brasileiro após a independência - tendo falecido em 1841 no Espírito Santo, onde, com o posto de major, cumpria mais uma missão.
Escreveu muito, sendo uma de suas mais importantes obras a "Memória sobre a viagem do porto de Santos à cidade de Cuiabá", relatando viagem que realizou em 1818; a obra foi publicada em 1825 e reeditada várias vezes. No livro, descreve nossa cidade, descrição que é objeto deste post, no qual procuramos manter a grafia original:
"Jundiahy, pequena Vila na Latitude de 23º 6’40” e longitude de 46º 57’ a Oeste do Meridiano de Greenwich, menos de uma milha distante da margem esquerda do rio Jundiahy-Guacú, que lhe passa ao norte, e vai desaguar no Tietê, quatorze, para quinze léguas distante da direção, em que este rio corre próximo a S. Paulo; está colocada ao longo do cabeço de um monte, dez léguas ao Nor-noroeste desta Cidade: o monte tem suave declive até ao vale, que lhe fica ao Sudoeste; para o lado oposto a inclinação é mais áspera; as ruas são alinhadas, e largas, dispostas paralelamente umas às outras; todas as casas construídas de taipa e terras, à exceção de duas moradas, a maior parte delas são cobertas de telha vã (sem forro), e guarnecem as ruas com muita irregularidade em suas frentes, e alturas: a rua direita está no ponto mais elevado, disposta ao longo do cabeço do monte; depois segue-se a do meio, e são as mais povoadas; à rua do meio segue-se a nova, e a esta a da Boa Vista, que é mais baixa, e a menos povoada; a qual tem grandes espaços tapados com muros de taipa, e outros inteiramente abertos.
Há nesta Vila três Igrejas; a Matriz, da invocação de Nossa Senhora do Desterro, colocada quase no centro da Vila, com uma pequena praça na frente; a de Nossa Senhora do Rosário, situada na extremidade da parte de S. Paulo (ocupava o espaço entre o prédio do Gabinete de Leitura e o antigo quartel) e a de S. Bento (o atual Mosteiro), no outro extremo, havendo entre esta, e a Vila, um comprido largo coberto de pequenos arbustos.


O açúcar, aguardente, e toucinho são os principais gêneros de exportação: colhe-se milho em quantidade, arroz, legumes de várias qualidades, e especialmente feijão: fazem farinha de mandioca; plantam algum trigo, e criam gado vacum, e cavalar (em outro post já falamos da produção agrícola em nossa cidade).

Ao rio Jundiahy-Guaçú se vão juntar os ribeiros Quapéba (Guapeva), e Mangabaú (Anhangabau), que atravessam a estrada geral; e passam junto à Vila. Uma grande parte de seus habitantes tem os pescoços defeituosos por causa da moléstia, a que vulgarmente chamam papos (bócio, aumento do volume da tireoide geralmente causado pela falta de iodo), que ataca as pessoas de ambos os sexos, e até de menos idade; julga-se que esta moléstia provém da qualidade das águas.
Na noite de 6 para 7 de Setembro, estando eu aqui de pouso, às 11 horas pouco mais, ou menos, houve um tempestuoso furacão, que se fez notável pelos seus efeitos: a trovoada foi horrível, e, entre os muitos raios que ofenderam a terra, um caiu sobre a Matriz, o impetuoso vento arrancou telhas, derribou algumas casas, e fez grande estrago nas plantações, e arvoredos: disseram alguns velhos do lugar, que não se lembravam de ter havido um temporal semelhante nos seus dias".
Encerrando a menção à nossa cidade, D'Alincourt descreve a saída em direção a Campinas: "De Jundiahy segue o caminho no prolongamento da rua direita, e toma por detrás de S. Bento em ladeira, pelo declive, que tem o monte, que termina no rio Jundiahy-Guaçú, que se passa por uma ponte estreita, construída de madeira e corre nesta paragem do Nor-noroeste, ao Sul-sudoeste: junto a ele, da parte da Vila, há seis pequenas moradas de casas; e a este sítio dão o nome da ponte (Ponte de Campinas): a estrada vai a Oes-noroeste plana, e coberta de arvoredo".
Sem dúvida, uma visão interessante da velha Jundiahy.
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